quinta-feira, março 17, 2011

domingo, março 13, 2011

Mazgani - Thirst


"Deus me perdoe, mas..."

Os Domingos em Lisboa impõem Eucaristia em Lisboa, pois está claro. A Igreja da Paróquia a que pertenço [Paróquia da Nossa Senhora da Porta do Céu], e a mais próxima da minha casa, está sempre repleta de gente com qualquer coisa de diferente. O padrão Burberry - podia ser outro qualquer, claro - repete-se a cada duas pessoas (sem exagero), há muitos miúdos que são tratados por você e que, apesar de passar cá poucos Domingos, têm nomes demasiado pomposos, são irrequietos e podiam ter saído de um catálogo de uma marca de roupa infantil do tipo sou-um-adulto-em-miniatura. Os gestos e sinais próprios da circunstância saem exagerados e forçados a grande parte da assembleia, as ofertas são recolhidas em sacos de veludo grená, pesado até mais não, o abraço da paz traz um aperto de mão sem sorriso e sem a paz de Cristo esteja consigo... A homilia não tem ponta de entusiasmo como quem aconselha a "olha para o que eu digo não olhes para o que eu faço" porque estou aqui a fazer um frete, ninguém me ouve e eu não vou esforçar-me por sair deste tom monocórdico... temos pena meus amigos, hoje é a história da Eva e do Adão que caíram em pecado mortal e das tentações do deserto de Cristo, como bem sabeis..." Não gosto, não gosto, não gosto. Mesmo! E sou tentada a embarcar em opiniões que vou ouvindo por aí de que os padres isto as pessoas aquilo e isso é triste e frustrante porque a minha Igreja é outra, a Eucaristia é sempre precedida dos rituais de quem vai à Missa das onze, os cânticos são os de sempre, o Padre é um dos nossos Amigos entre tantas outras diferenças... A questão é que outra qualquer Igreja seria mais longe, outra qualquer Igreja seria provavelmente igual e não é o edifício ou o entusiasmo com que lá se fala que mais importa mas o que lá se partilha e se diz e a maior parte disso tem pouco das pessoas comuns (infelizmente) mas de um Deus que ainda tem que fazer o trabalho todo ao fim de tantos mil anos. E por isso no ponto alto da celebração fecho os olhos. E peço a Deus que me perdoe o atrevimento mas não estou mais ali por O saber também noutros sítios desapareço. Ao longe os cânticos têm força e batuques. Há palmas...já lá vão duas horas e podíamos estar a rezar o "Pai-Nosso, qué estáis no céeuu...Santificádú seijó vóssu nomiii, veinhá nóis ú vóssu reinoo..."E continuo de olhos fechados... O pão é escuro e grande e há-de alimentar muitas almas. Não há limites físicos neste Templo. As portas estão abertas, o tecto não existe, as crianças envolvem-se em todos os momentos da celebração, não há xadrez rico nas roupas mas cores vivas em que se embrulham as mulheres com os seus filhos, os pés têm pó e estão descalços... e é com espanto que os miúdos contemplam tudo e com abraços que a gente grande celebra a Vida e o Deus da gente. Oh, Deus meu, perdoa-me mas... de olhos abertos aqui só estou à Porta do Céu. Se os fechar fico do lado de dentro.

P: Mistério da Fé.
T: Anunciamos Senhor a Vossa morte, proclamamos a Vossa Ressurreição. Vinde, Senhor Jesus... 

quinta-feira, março 10, 2011

Auto-estima, precisa-se.

A E. tem 90 anos e uma demência daquelas. Disse-me num tom que não sei definir (mas que pintou a minha manhã com as cores mais garridas que existem): "...a Doutora é muito linda e muito preciosa, muito precioso é o seu valor..." 
E eu acreditei, pois está claro. Acreditei como se ela estivesse no seu juízo perfeito e eu também.