sexta-feira, junho 20, 2008

Sem título.

Há ocasiões, há alturas, de tempo e de serem altas demais para me atirar delas, em que me vem a cobardia de querer de volta o ninho que conheço às cegas, o asilo que há nos lugares pequenos, a água nos ouvidos que dilui os sons, a posição enroscada que resguarda o que é mais íntimo, o que é mais frágil, o que quero intacto.
Quero o útero primeiro. A Tuas duas mãos em concha à beira do planalto alto. A possibilidade de ficar sempre até saber bater as asas.
E nesses momentos corro atrás dos lugares onde mais Te encontro. Estás nos pinheiros de flores simples, singelas. Nos animais que os habitam, no seu canto. E estás nas pinhas que acomodam sementes, possibilidades imensas de novas árvores. Estás nas copas que não deixam o sol ferir os olhos. No santuário onde um colo me espera sempre que o procuro. E quando caminho, se me der conta, estás nas agulhas que se quebram e me dão a certeza de encetar de novo o caminho para o meu caminho.
E então volto-me para regressar. E assim que me volto sou eu o útero primeiro, a árvore que abriga e oferece os sons alegres, que acomoda todas as possibilidades. E sou de novo Teu santuário nos dias que vão correndo, lugar para Ti. E é em mim que Te procuro, e para Ti dentro de mim que corro, quando se abre, ao sol que fere os olhos, o que é mais íntimo, o que é mais frágil, o que quero intacto.