segunda-feira, dezembro 31, 2007

31 do 12?... E foi Dezembro!

E foi Dezembro - Luis Represas
***
E foi Dezembro. Dito em tua voz. Que as minhas mãos colheram devagar. E foi Dezembro. Escrito quando a sós tudo disseste quase sem falar. Foi um palco vazio a acontecer. No frio que se ergueu dentro de nós. Uma distância. O mar que se estendeu. A separar da minha a tua mão. E foi Dezembro. Inteiro. A anunciar a solidão dos dias por nascer. E foi Dezembro. À chuva. A reviver as pedras. E os rios. E os luares. Os nomes que vestiam os lugares. E os sonhos repartidos que não fomos. A coragem nascida de aceitar a verdade de ser o que hoje somos. E foi Dezembro. Vivo na roseira. Despida no silencio do jardim. E foi Dezembro. Ainda na cegueira das asas de uma ave que há em ti. Foi um tempo de amantes a aprender que não deve esquecer-se o verbo amar. Ou um inverno. Apenas. A perder-se da primavera do primeiro olhar.
* * * * * * * * * * * *
(Doze passas por doze não escusados Dezembros em 2008!)

domingo, dezembro 23, 2007

(Tenho para mim que...)

Os Búzios - Ana Moura

segunda-feira, dezembro 17, 2007

Are you anybody's favorite person?

... tenho-me perguntado.

sábado, dezembro 08, 2007

Actualização

...mas torces o nariz e lá se vai o sol...

domingo, dezembro 02, 2007

Discos Pe(r)didos

Meu caminho é cada manhã / Não procure saber onde estou / Meu destino não é de ninguém / E eu não deixo os meus passos no chão / Se você não entende não vê / Se não me vê não entende / Não procure saber onde estou / Se o meu jeito te surpreende / Se o meu corpo virasse sol / Se minha mente virasse / mas só chove e chove / Chove e chove / Se um dia eu pudesse ver / Meu passado inteiro / E fizesse parar de chover / Nos primeiros erros / Meu corpo viraria sol / Minha mente viraria sol / Mas só chove e chove / Chove e chove

sexta-feira, novembro 02, 2007

"With every waking breath I breathe, I see what life has dealt to me"


... o amanha é sempre uma descoberta fascinante, repleta de cheiros, de cores, de emoções, de vida.
Não tenhas medo de não ver o que está depois das tábuas; o mar que hoje é revolto amanha é calmo e sereno, com um caminho bonito e único, ali, descoberto para ti e para esse coração doce e sereno que tu tens.
Respira e sente quão agradável é cada sensação por que passamos na longa estrada ...
P.G. (*)
=)

segunda-feira, outubro 29, 2007

Acção de Graças

Gosto quando a moleza própria do cansaço típico dos fins dos dias que, alegremente, cansam me embala a escrita. É sempre sinal de que fui tirando o melhor de cada uma das partes do todo em que me dei com os outros. Ter-Te sempre tão perto a ponto de sentir-Te a mão que me impele para diante para que dê os passos e tome as decisões.
Hoje agradeço porque “nada é coincidência, tudo é providência”e por chegar a ser impressionante a forma como Fazes suceder os sinais, elucidar as pistas e iluminar os caminhos. Por quem segue comigo longe, perto e assim-assim. Pela dose extra de energia compatível comigo, pelas surpresas feitas amigos que já faziam falta. Porque sempre que passamos por achar que não há para onde ir nem que fazer, porque nem sempre sabemos bem quem somos nos mundos tão grandes e frios onde a missão-vocação de cada um exige que estejamos, Pões sempre, em nós, qualquer coisa que nos faz querer… querer ser alguém. E aí a Vida deixa de poder parar, a viagem é sem regresso e vamos como ventos: com tudo para dar, sem tempo a perder e a saber que podemos e vamos chegar onde Tu nos queres levar.
Obrigada pelas caras novas e pelo acolhimento. Senti-me num grande e apertado abraço cor azulorbis. Obrigada pelos exemplos de dedicação e de esforço despretensiosos, pela fonte de Amor que brotou hoje no meio da cidade que ficou, há pouco e por pouco, para trás. Por me Renovares a vontade de “me consumir como vela que arde no altar, consumir de Amor. Só por ti, Jesus”. Por querer ser aquilo que Queres e saber que “sozinha eu não posso mais viver”.
“Juntos podemos e vamos mudar o Mundo” é a única frase que, repetida insistentemente, não se gasta nem se desvanece. Queiramos nós!
Amén.

domingo, outubro 21, 2007

Dia Mundial das Missões


TODOS EM MISSÃO

Onde quer que estejas. Seja qual for a tua idade e profissão. Cultives os sonhos e projectos que cultivares. Tenhas as aspirações que tiveres. A missão é a força dinâmica da vida a que estás chamado.
Estar em missão é sentir a urgência do amor com que Deus ama o mundo. É deixar-se envolver por Jesus Cristo na sua paixão pela humanidade. É viver em sintonia com o Espírito que, de forma irreversível, quer suscitar em nós um “coração novo” e renovar a face da terra, suas estruturas e organizações.
Há ainda muito a fazer. Há horizontes a prosseguir, caminhos a percorrer, iniciativas a promover.
Os problemas parecem maiores do que os esforços empreendidos. Só a fé alicerçada no amor alimenta a esperança num mundo melhor, numa sociedade digna da condição humana, numa Igreja que, graças ao Espírito Santo, permanece fiel ao mandato de Jesus Cristo e o prolonga no tempo por meio de nós.
A coragem de evangelizar é a medida do amor. Agir com o coração em benefício de todos, sobretudo dos mais necessitados. Dando e recebendo o que há de melhor na vida: Colaborar com Deus no projecto de salvação; estar disponível para a missão, pronto para servir sem hesitação, firme na convicção.
Esta é a fonte da nossa alegria. Esta é a razão da nossa maior responsabilidade. Colaborar com Deus para que Jesus realize a sua obra e todos possam descobrir e apreciar o amor com que somos amados.
Então, encher-se-ão de brilho os olhos da humanidade inteira, de contentamento os corações amargurados, de alimento os estômagos atrofiados, de esperança as aspirações silenciadas, de harmonia o universo, liberto de tudo o que desumaniza e aberto à plenitude que, sorridente, nos atrai à família dos filhos de Deus reunidos à mesa do Pai comum a celebrar festivamente a sua vida em família.
O serviço à missão reveste muitas e atraentes modalidades. Umas já estão experimentadas com êxito, outras terão de ser criadas pela “fantasia da caridade”. É o desafio que o Espírito nos faz por meio das situações provocantes que exigem soluções concretas
A oração é o primeiro e principal contributo missionário. É tempo de rezar mais e, sobretudo, melhor. Procurar a sintonia e o ritmo do coração de Cristo. Escutar o desabafo que sempre nos segreda: Vim para que tenham vida em abundância. Ide até aos confins da terra e comunicai esta boa nova a todas as pessoas que Deus ama. A vós, a ti confio esta missão, fruto do meu amor e prova da tua fé.

Pe Georgino Rocha
Obrigada Karina!

quinta-feira, outubro 18, 2007

Enquanto houver.

Enquanto houver um sorriso
Enquanto houver um fascínio
Vento a soprar-nos na cara
E a roupa a tocar na pele
Enquanto houver companhia
Nos avessos do caminho
Podem rasgar-nos a alma
Que há-de sobrar poesia
Enquanto lançarmos sonhos
Com a força da maré
E desvendarmos o mundo
Entre incertezas e fé
E as coisas oscilarem
Ao segredar-se uma jura
Podem rasgar-nos alma
Que há-de sobrar a ternura
Enquanto houver um disparo
Que rompa um silêncio vão
Enquanto o tempo doer
Ao escorregar-nos das mãos
E trocarmos a desculpa
Pela culpa da verdade
Podem rasgar-nos a alma
Que há-de sobrar-nos vontade
Letra: Mafalda Veiga

sexta-feira, outubro 12, 2007

Das coisas que Deus me deixa ditas atrás das orelhas.

Hoje estava capaz de sair por aí. Meter a quinta, não sair dela e, desassossegada, largar a procurar, do vento e do salitre, o que de um faz com que o outro se cole ao cabelo e à pele, arrefeça as pálpebras e salgue mais as lágrimas.
Porque, por hoje, carente, procurava com exaustão o afago num gesto, o abraço no enleio de uma aragem soprada com mais força, o conforto num ninho improvisado entre pedras, a acalmia do mundo, por esta hora, a perscrutar alguma esperança, o meu ansiado sentido num astro caído com rumo predestinado, o meu futuro. O que preciso, agora, neste Teu acalento universal.
Hoje quero para mim muito mais do que o que tenho. Quero-me mais do que a mim só. Quero-me a mim Contigo a baralhar as leis da Vida e a fazer crescer, sem ver-lhes depois as mãos, os meus braços. Quero retribuir, no inadiável hoje, o Amor que me tens. Adubar o coração, porque também precisa, e esticar infinitamente a vontade que tenho de Ti.
Quero a graça de um colo onde caiba o Mundo e a exiguidade de uma testa que deixe que Te sobeje o ombro.
Quero-me ao lado, alada, colada. Comprometida, incontida e desmedida.
Sempre.

domingo, setembro 30, 2007

A propósito.

Elogio do Amor
Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas. Tenho uma coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la. Muito do que se segue pode ser, por isso, incompreensível. A culpa é minha. O que for incompreensível não é mesmo para se perceber. Não é por falta de clareza. Serei muito claro. Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo.O que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.Hoje em dia aspessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas. Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo? O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado,viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a Vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também.
Miguel Esteves Cardoso, in Expresso

quarta-feira, setembro 19, 2007

"Isso é o jeito (...) de enganar o tempo."

Quando a hora dobra em triste e tardo toque / E em noite horrenda vejo escoar-se o dia, / Quando vejo esvair-se a violeta, ou que / A prata a preta têmpora assedia; / Quando vejo sem folha o tronco antigo / Que ao rebanho estendia sombra franca / E em feixe atado agora o verde trigo / Seguir o carro, a barba hirsuta e branca; / Sobre tua beleza então questiono / Que há de sofrer do Tempo a dura prova, / Pois as graças do mundo em abandono / Morrem ao ver nascendo a graça nova. / Contra a foice do Tempo é vão combate, / Salvo a prole, que o enfrenta se te abate.

William Shakespeare

sábado, setembro 15, 2007

[Só por hoje] Procuro o lento cimo da transformação.

Procuro o lento cimo da transformação
Um som intenso. O vento na árvore fechada
A árvore parada que não vem ao meu encontro.
Chamo-a com assobios, convoco os pássaros
E amo a lenta floração dos bandos.
Procuro o cimo de um voo, um planalto
Muito extenso. E amo tanto
A árvore que abre a flor em silêncio.


Daniel Faria

segunda-feira, setembro 10, 2007

(Ainda) Santiago de Compostela

Faltavam os últimos dez quilómetros da nona e última etapa do caminho que, por fim, nos levava a Santiago de Compostela. Depois de tirada a fotografia junto ao marco que indicava estes últimos dez mil e poucos metros, entre outros peregrinos que se foram fazendo amigos ao longo do caminho, tomei consciência da dimensão que tomava aquela contagem decrescente de distância e de emoções.
Era dia 27 de Agosto, uma segunda-feira de sol quente, mas quente como ainda não se tinha feito sentir durante todo o restante caminho.
Já tínhamos caminhado oito dias e meio, o que por esta altura já deixava antever que à semelhança do que acontecia com os últimos quilómetros de cada etapa passada, os últimos quilómetros do derradeiro dia seriam percorridos num misto de ansiedade e de dor - porque dói muito - só aliviado pelas brincadeiras e acrobacias, pelas histórias e pelas canções, pela oração individual ou pela oração a três. E aos dez quilómetros da nona etapa, sem dar por mim, trauteava aquela música do André Sardet que diz “Para me encontrar / Procurei o meu lugar / E no fim estou mais perto de mim. / E na esperança de alcançar / Uma forma de mudar / Estou mais perto de mim.”. E estava. Como nunca antes estivera.
Fazer, finalmente, o Caminho de Santiago de Compostela, revelou-se a prova viva de que aliar os sonhos à persistência só pode resultar em coração cheio.
A 19 de Agosto, ainda o dia tinha apenas seis horas e catorze minutos, já eu, o João e o Ricardo, três jovens de Ílhavo, entravamos no suburbano que nos levaria à cidade do Porto, em cuja Sé iniciaríamos a peregrinação a que cada um se tinha proposto. Carimbadas as credenciais de peregrinos ainda intactas, já se afigurava diante nós a primeira das muitas setas amarelas que iriam nortear os nove dias seguintes.
Há já dois anos que idealizávamos, sonhávamos, avançávamos, recuávamos no “Camiño” e, finalmente, chegara a hora. À saída as palavras amigas e encorajadoras do Pe João, “Que Deus vos acompanhe e que o caminho vos transforme. Força.”, foram o mote.
Qualquer guia ou mapa, apesar de essenciais, qualquer testemunho ou tentativa de explicação daquilo que é fazer o Caminho de Santiago, reduzem à milésima parte o verdadeiro sentido do Camiño, porque como já dizia o poeta, “Caminhante não há caminho / O caminho é feito a andar.”. Neste sentido, a somar às dezenas de caminhos já trilhados e documentados, há os milhões de caminhos já percorridos, já que cada um que caminha, caminha por si o seu próprio caminho.
De outros testemunhos que procurei ir conhecendo, uma vez que na véspera de partirmos a sede de informação era insaciável, percebi em muitos a comparação inevitável entre o caminho e a própria Vida: as dificuldades do dia-a-dia, as tristezas, as desilusões, as metas, as ambições, feitas metáforas nas subidas intermináveis, no sol tórrido, no peso da mochila, na chuva, na trovoada, na alegria de finalmente chegarmos ao albergue, no banho quente e no banho frio, no colchão e no chão duro, na certeza de que na manhã seguinte teríamos pés para mais trinta quilómetros, no superar da etapa mais longa, na presença de amigos e familiares no início, a meio e no fim. Porém, fazer, efectivamente, o caminho dá também a outra perspectiva, aquela que se torna intraduzível no testemunho posterior: não só a Vida se revela um caminho mais ou menos penoso, como todo o caminho se apresenta repleto de Vida. E é assim que o Caminho de Santiago vale, sobretudo, pela presença viva de Deus numa listagem enorme de momentos, situações e pormenores que me custa arriscar enumera-los: há a Natureza e a Criação no estado mais puro, há a história dos lugares onde cada um faz história, há a experiência de grupo e a do Eu singular e único. Há a entreajuda, há a alegria, os sorrisos, as lágrimas e a oração fervorosa que brotam, espontaneamente, do sofrimento dos últimos quilómetros de cada dia. Há estranhos que se fazem amigos e histórias de Vida que extasiam. Há amigos e notas de gaitas de foles à chegada. Há cores e cheiros inebriantes. Há acolhimento, há discernimento, há a transmissão do segredo de um Caminho que afinal não termina em Santiago de Compostela, mas que lá começa, há já saudade das coisas que têm necessariamente que acabar, das pessoas que partem para voltar e daquelas que cruzaram o nosso caminho e que nunca mais veremos.
Há, afinal, a possibilidade imensa de nos maravilharmos, a cada instante e a cada passo, com a presença de Deus, em coisa e em cada Um.
Bon Camiño!

quinta-feira, agosto 30, 2007

Caminho de Santiago de Compostela


"Para me encontrar, procurei o meu lugar e no fim estou mais perto de mim. E na esperança de alcançar uma forma de mudar, estou mais perto de mim. Estou mais perto de mim, mais perto de mim"

André Sardet

segunda-feira, julho 23, 2007

Xomos p’la Xerra!


Xomos p’la Xerra e p’los xales de montanha. Xomos p’la qualidade de vida e p’las antenas de TêBê. Xomos p’los tectos inclinados e p’las escadas em caracol. Xomos p’las Xenhoras que não xão belhas e p’las aparixões. Xomos p’las queixeiras e p’los regatos de áuga. Xomos p’las tele-cadeiras baratinhas e p’las provas de prexunto e queixo. Xomos p’las giesteiras amarelas e p’los banhos txécos. Xomos p’los vales em Bê e p’la desglaciaxão. Xomos p’los rabos para o ar e p’los catálogos fotográficos. Xomos p’los parques infantis e p’los txácuzzis naturalmente sem áuga. Xomos p’los bindes melanxia e p’los cafés bué bué caros. Xomos p’la xôpa de espinafres e p’la inutilidade das varinhas mágicas. Xomos p’las xaladas e p’los rixóis. Xomos p’las coinxidênxias e p’la Prova Oral. Xomos p’la recentemente adquirida versão de ararutas com queixo da xerra e p’la procriaxão de luas. Xomos p’los eclipxes e p’los anéis brilhantes. Xomos p’la áuga a correr e p’los xocalhos das obelhas que por sinal pertencem a manadas. Xomos p’los aquexedores e p’las notas de xinquenta eurus. Xomos p’lo pão com xicolate e p’los votos de miséria dos franxixcanos. Xomos p’los amigos, xomos p’los microclimas e p’la mixa das sete. Xomos p’la Xara e p’lo Abraão que conxeberam em idade avanxada e por xinal coziam pão sem xicolate e vitelo axado. Xomos p’lo acolhimento!
Xomos um poucuxinho xerranos e gostamos!

Vá lá [suspiro]. Colabora! Só quero "(...) o riso, o amor, o gosto a sal, o sol do olhar."

Quisera roubar-te essas palavras e morrer / Trazer-te assim até ao fim do que eu puder / E começar um dia mais eternamente / Por te rever, só. / Pudesse eu guardar-te nos sentidos e na voz / E descobrir o que será de nós. / E demorar um dia mais eternamente / Por te rever, só. / Quisera a ternura, calmaria azul do mar / O riso, o amor, o gosto a sal, o sol do olhar / E um lugar pra me espraiar eternamente / Por te rever, só. / Pudesse eu ser tempo a respirar no teu abraço. / Adormecer e abandonar-me de cansaço / Quisera assim perder-me em mim eternamente / Por te rever, só .
Mafalda Veiga

terça-feira, julho 17, 2007

"Há coisas [fantásticas relacionadas com esse grande senhor da música portuguesa que é o José Cid] que só acontecem no Verão..."

Tudo a comprar! A "mãe do rock português" merece...
('Tou muito pouco inspirada. Ele vale por si!)
Férias... "Keep pushing!!!"... 'tá quase!

sábado, junho 30, 2007

Ao meu avô Fernando,

"Os nossos projectos / de outra mesa maior / mais me custam (...) quando a mesma exígua mesa / agora é uma mesa grande"
A mesa - José Craveirinha, Maria
...
Carrego no trinco, sem me esquecer do jeito sem o qual não abriria o portão grande e abro-o e entro. “O cão já conhece o motor do carro. Vá, faz-lhe lá uma festinha que o animalzinho também merece!”. E sem te ver ainda, neste lado do pátio, não é, de todo, difícil imaginar-te sentado no banco do alpendre, de chapéu de aba larga que te mandaram da América e camisa de flanela verde no pino do Verão. Partes nozes com um martelo na pedra de afiar as facas. Há uma semana atrás tinhas as mãos verdes de descascar favas porque sabes que eu gosto. E, então, penso que agora te entreténs com as nozes, com as favas, com os feijões, para não admitir que inventas nozes para partir, favas e feijões para descascar para estares, assim, sentado à mesa do alpendre, de olhos postos no portão, a esperar, ansioso, que por ele te irrompam netos. Festas feitas no cão, ponho mais entusiasmo do que aquele que sairia naturalmente num “É ‘vô! ‘Tão? ‘Tá tudo bem?”. E os olhos riem-se-te e “Antes de mais nada, ora vai ali ao aido e vê o que lá está!”. E eu vou sem perguntar mais, porque nos habituaste sempre a algo mais do que espantoso na sequência destas frases. Numa dessas vezes, tiraste a mão fechada de dentro de uma tangerineira, que secou há já um tempo, e quando a abriste aos nossos olhos esbugalhados de curiosidade, revelaste um gafanhoto tão grande, mas tão grande que nos custou um susto e um salto atrás. E rias-te. E nós riamo-nos a seguir, já ia longe o gafanhoto.
No fim do carreiro, onde acaba o muro de adobes, andas a estimar uma pequena parreira que, agora, carregada de framboesas, parece saída de um quadro. Confesso que já estava à espera e os olhos riem-se-te, outra vez. Este ano a cerejeira não deu cerejas e estás convencido de que foi por não ter sido neto rapaz a comer as primeiras do ano passado. “Dizem que as árvores ficam aneiras!”, seja lá isso o que for. Ora fico à espera que me mandes comer as framboesas, não vá para o ano não as haver.
Já dizes pela terceira vez que “isso andava atirado para aí e não dava nada e eu então espetei-lhe aí umas canas e olha: está carregadinha!” ao que eu respondo que “está tão linda com as framboesas que dá pena comê-las!”.
Soubesses tu do pouco valor que dou a framboesas e ficarias, certamente, bem triste.
Tens setenta e alguns anos e só agora parece que começo a acrescentar-tos. Sei lá eu porquê. Foste sempre assim e nunca te conhecemos menos velho. Desde que me lembro de ser gente contigo, as tuas mãos nunca foram menos ásperas nem o teu feitio menos previsível. Admirávamo-nos sempre que te víamos arrancar urtigas à mão, desfolhar as espigas de milho em três tempos, desviar as silvas do nosso caminho, dobrar as vergas para os cestos, atar os molhos com ervas que cortavam e amaciar o cabo da enxada com uma cuspidela, entre golpes na terra.
Ensinaste-nos a distinguir sapos de rãs e de relas e pardais de pintassilgos, e deleitavas-te a ver-nos empanturrar os melros caídos dos ninhos com água e papas da farinha dos pitos. E, incrivelmente, resistiam sempre, os pobres bichos.
E chegava a altura das batatas e recrutavas toda a gente. E ai daquele que se pusesse à frente do arado, ou confundisse a vaca com um “Ouo aíííí” ou um “Eixee vaca”. Ninguém ousava já desacatar as tuas ordens e os teus conselhos eram sempre os mais sábios e os mais certeiros. Como ninguém se atrevia a chegar-se às ninhadas de coelhos nas primeiras semanas, ou à caixa do milho onde pousavas as facas por altura da matança do porco, nem mesmo às pipas no celeiro quando mudavas o vinho velho. Couberam-me a mim alguns anos de limpeza da cuba que recebia o vinho novo. Quando deixei de caber na portinhola, e olhando para ela agora parece-me quase impossível algum dia ter lá cabido, encarregaste um neto mais novo. Se soubesses como me doeu a substituição! Gabavas o rigor da minha limpeza e sabias que nenhum canto daquele cubículo ficaria por esfregar com o pedaço de toucinho que me escorregava das mãos pequenas. Ninguém o fazia como eu, ainda o dizes. Acho que puxei a ti o gosto pelas coisas bem feitas. Sabes disso, agora.
Quando o último neto deixou de caber na cuba, na habilidade que te caracteriza, inventaste um sistema complexo de cabos e cordas, focos e esponjas na ponta de uma cana, mas quase inevitavelmente não era a mesma coisa e deixaste de ter vinho para mudar e não mais precisaste de limpar a cuba para o receber. É incrível como na vida os acontecimentos se sucedem e se fazem coincidir. Como rasgos de destino traçados. Sem volta a dar-lhes.
Ponho tanto de alegria como de saudade nesse tempo. Queria ter resistido mais manhãs aos Power Rangers, à Sailor Moon e ao Dragon Ball. Ter-me levantado mais vezes de madrugada e ter apanhado mais com o orvalho ainda frio na cara quando iam apanhar a erva para as vacas. Queria ter sofrido mais com os solavancos da carroça a caminho das terras e ter bebido mais leite ainda quente do úbere. Queria ter sabido que hoje teria saudades de levar o pacote de Planta debaixo do braço quando me mandavas à padeira e consolar-me com o pão quente e a manteiga derretida. E espantar-me com os bezerros a nascer, a periodicidade da postura dos ovos e da chegada das andorinhas para ocuparem os ninhos, nas traves de madeira do alpendre. Queria ter a terra quente entre os dedos dos pés e a cara fendida pelas bandeiras do milho. Queria ter chapinhado mais nos labirintos dos regos da água que puxavas do poço para regar o aido, ter montado mais armadilhas aos pardais e ter roubado mais salsa para não teres desculpa e fazeres bolos de bacalhau para todos. Se eu pudesse voltar atrás subiria à escada encostada à figueira e ficava lá, só para te ver ralhar como dantes por mais tempo e apanhava os damascos e os diospiros verdes. E fugia mais vezes na tua bicicleta para as corridas no beco e esmurrava mais os joelhos à conta disso. Faria mais das asneiras que hoje me deixam saudades, e estenderia a minha meninice eternamente só para não te ver agora, impaciente de testa franzida, à mesa do alpendre, ansioso que pela porta te irrompam netos.
Vou buscar a joeira e vou apanhar as framboesas. Talvez chegue a casa e faça gelado. E hei-de trazer-to, porque o que mais te mima agora é qualquer coisinha doce que te tragamos a par com a Visão da semana. Daqui a dias já vão estar os pêssegos e os damascos maduros e vais telefonar a dar conhecimento disso. E ninguém vai comê-los antes de nós. Vais garanti-lo.
Não foste avô de contar histórias connosco nos joelhos, mas de fazeres connosco a nossa história e hoje, não sei porquê, entre framboesas, ar puro e nostálgico, comovi-me com a precariedade desta vida e com a consciência do pouco tempo que dispenso contigo.
Há uma qualquer vontade de te homenagear pelo homem recto que és, pela habilidade que tens, pela perspicácia, pela preocupação, pelo Amor por detrás do rosto rígido que o tempo acabou por embrandecer.
És grande avô!

quinta-feira, junho 21, 2007

Para andar(es) em frente.

Beijinho no João Daniéééuuu...

Digo que importa muito, e tudo, ter uma grande e muito determinada determinação de não parar até chegar, venha o que vier, suceda o que suceder, trabalhe-se o que se trabalhar, murmure quem murmurar, quer lá se chegue, quer se morra pelo caminho, ou não se tenha ânimo para as dificuldades que nele há, quer se acabe o mundo.

Sta Teresa de Jesus

sexta-feira, junho 08, 2007

"Que negra sina ver-me [quase] assim..."

"(...) Lá estou para os ver, para os injectar, para os abrir, para os retalhar, para os coser, sempre a sorrir! "


... pera, pera, pera ...

Edit Post

... depois, como que por... (não há palavras)... encontram-se coisas que... nem sei!

Apreciai!


I


II

E deste alguém se lembra?! ...

terça-feira, maio 29, 2007

P'ra celebrar as borboletas que trazes no estômago.

Hoje, p'ra ti:

Quand il me prend dans ses bras, Il me parle tout bas, Je vois la vie en rose. Il me dit des mots d'amour, Des mots de tous les jours, Et ça m'fait quelque chose. Il est entré dans mon coeur, Une part de bonheur, Dont je connais la cause. C'est lui pour moi, Moi pour lui dans la vie, Il me l'a dit, l'a juré, Pour la vie. Et dès que je l'apercois, Alors je sens en moi Mon coeur qui bat.

Edith Piaf

segunda-feira, maio 28, 2007

Ordinary day (Dia normal)

Costumava deixar as flores que me davas no caminho da escola a secar nas páginas dos livros que sabia que lias. Mais tarde, foram poemas nas margens brancas ao lado dos textos, técnicos e enfadonhos, que sublinhavas. Ria-me sempre de imaginar-te rendido às promessas de amor inocentemente furtadas aos poetas dos tempos antigos com que juntos preenchemos, mais tarde, a estante comprada a meias. Escancarámos sorrisos às portas do coração ante o engenho posto no amor escrito daqueles trovadores do tempo dos reis, por não sabermos fazê-lo à sua maneira. Porque tínhamos o Amor na ponta dos dedos, nas palmas das mãos, no brilho aguado dos olhos, nas alegrias e nas tristezas que fazíamos, sempre, dos dois.
Mostrava os dentes nos sorrisos, punha outra entoação nas últimas palavras das frases. Deixava intenções nas entrelinhas da conversa, esquecia-me da mão no teu joelho. Mexia-te o açúcar do café e garantia-te o quadrado da tablete de chocolate preto ao lado. Tão religiosamente!

Quando penso no que nos fomos deixando ser chego sempre à conclusão de que nunca fomos tudo, para roçarmos sempre a inevitabilidade de podermos sê-lo. Ou não.
E há tanto para ser.

Je reve de toi (I dream about you) Plus près de moi (closer to you) I need you, I need you I need you, I need you Who loves you Who loves you Nos histoires (our stories) Nous separent (keep us apart) Je regrette ce temps qui passe. (i long for the time passing) It's an ordinary day Just an ordinary day Nothing much to laugh about Nothing much to cry about C'est comme ça du soir au matin (that’s how it goes from evening to morning) Y penser n'y changera rien (to think about won’t change a thing) Bien malgre moi, (even though i wish not) Tu vis en moi (you live inside me) I need you, I need you I need you, I need you Chaque jour se ressemble (everyday seems the same) A s'imaginer ensemble (thinking of us being together) On se manque et l'on se retient (we miss each other and we won’t tell) L'avenir semble si lointain (our future seems so far..) I need you pa ba da ba da I need you pa ba da ba da Tant d'espace (so much space) Nous separe (tears us up) Et si tu perdais ma trace (and if you were losing my track) It's an ordinary day Just an ordinary day Les jours se suivent et se ressemblent (days follow and remain the same) Separes mais toujours ensemble (apart but still together)

sábado, maio 19, 2007

Eu já estava a demorar.

Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma, até quando o corpo pede um pouco mais de alma, a vida não pára... e quando o tempo acelera e pede pressa, eu recuso, faço hora e vou na valsa, a vida é tão rara... enquanto todo mundo espera a cura do mal e a loucura finge que isso é normal, eu finjo ter paciência... O mundo vai girando cada vez nais veloz, a gente espera do mundo e o mundo espera de nós um pouco mais de paciência... será que é tempo que lhe falta para perceber, será que temos esse tempo pra perder e quem quer saber?! A vida é tão rara... tão rara... Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma, até quando o corpo pede um pouco mais de alma, a vida não pára... a vida não pára nao... será que é tempo que lhe falta para perceber, será que temos esse tempo para perder, e quem quer saber?! A vida é tão rara... tão rara... A vida é tão rara.

sábado, maio 12, 2007

(Ainda) Fátima Jovem 07

D. Ilídio Pinto Leandro
Bispo de Viseu e Presidente da Peregrinação "Fátima Jovem 2007"
Neste dia e neste lugar saúdo, em vós, caríssimos jovens, todos os jovens de Portugal: aqueles que, como cristãos, vivem a mesma Fé, nos seus grupos e nas suas dioceses, e aqueles que, não vivendo uma relação efectiva com Jesus Cristo, buscam a felicidade e realização pessoal, investindo as suas energias e capacidades na construção de um mundo melhor. Saúdo o Departamento Nacional da Pastoral da Juventude e todo o seu esforço por apontar caminhos e por propor estratégias para, nesses caminhos, convidar todos os jovens a viver a sua juventude cheia de valores, a partilhar em grupo e nos ambientes onde cada um se insere. Neste dia da Mãe, saúdo, convosco, Maria, a Mãe modelo e referência pelo seu amor à vida e à Fonte da Vida que irradia em todos nós vida em abundância. Nela, saúdo e rezo por todas as vossas Mães e por todas aquelas que acolhem a vida com alegria, com entusiasmo, amor, respeito e gratidão.
Celebramos um grande dia – o Fátima Jovem 2007 – com um tema exigente, somente capaz de motivar jovens exigentes e decididos a olhar de frente a vida, a própria, a dos outros e a da sociedade em geral. É um dos temas contra a corrente, que somente se partilha com os amigos e que tem sentido reflectir, somente quando se tem a certeza que se é compreendido. “Renuncia a ti mesmo! Pega na tua Cruz!”
É um tema vocacional no sentido pessoal e comunitário, que nos convida a olhar o texto e o contexto, pois as implicações são mesmo sérias, exigentes, com consequências certas, ainda que, de todo imprevisíveis.
Primeiro, supõe encontrar um ideal e fazer, por ele, uma séria opção. Depois, exige uma correcta estratégia, cortando com o status quo – o de cada um de nós e o dos ambientes que nos tocam e nos quais estamos inseridos…
Qual será esse ideal? É apontado na Palavra de Deus deste Domingo. Começa com um sonho (2ª), termina numa opção (2ª) e concretiza-se numa estratégia (3ª). Qual é o sonho? Ver e acreditar num futuro novo, numa sociedade nova, acabando com o pessimismo e a sina de lamentarmos uma sociedade decadente, velha e ultrapassada. Estamos cheios de conhecer e experimentar soluções falhadas, provocadas pela violência sem horizontes; pela ciência sem consciência; pela técnica sem pessoa e sem alma; pelo fácil sem compromisso; pelo prazer sem amor e sem responsabilidade; pela corrupção sem espírito crítico, sem vergonha, sem emenda e sem respeito pelos outros.
Qual a opção a fazer? Fazermos nossa a opção de Quem está sentado no trono, como nos diz a 2ª leitura – “vou renovar todas as coisas”.
A estratégia?!... Essa é constituída pelas exigências da Nova Evangelização: aventura; sonho e entusiasmo pela novidade; acto de fé na mudança; empenhamento para que tudo aconteça; sentir-se convocado e tornar-se o primeiro aliado da missão. Numa palavra, a estratégia é viver o Mandamento Novo do Senhor em toda a sua exigência, como nos vem descrito no Evangelho.
Caríssimos jovens, dizei a sério: estais satisfeitos com esta sociedade? Quereis continuar este caminho, sem futuro e sem retorno? Achais que é possível mudar e fazer melhor? Quereis empenhar-vos por dar o vosso contributo para uma nova Sociedade?...
Está aqui o segredo para a leitura do tema da nossa Peregrinação: Renuncia a ti mesmo!... Pega na tua Cruz!... É difícil? Sim, mas é possível. Sabeis que temos um Modelo!… O Seu nome é?!... Sim, é Jesus. Ele renunciou a viver a Sua Divindade junto do Pai, encarnando todas as situações dolorosas da Sociedade, do Seu e do nosso tempo; acreditou que era possível e fez a opção mais coerente, embora mais difícil; veio para junto de nós, pegando na Cruz da intolerância, da injustiça, da mentira, da corrupção, da morte… E, fazendo da estratégia o Seu caminho de vida, amou até ao fim e apontou-nos a Sua como a nossa estratégia – “Nisto conhecerão todos que sois Meus discípulos: se vos amardes uns aos outros”…
Está aqui o caminho para a mudança e para realizar o ideal de uma Sociedade Nova – implantar a Civilização do Amor… Com o Amor virá a justiça, a solidariedade, a paz, o respeito, a alegria, a verdade, o bem, um mundo novo e um futuro melhor… Esta estratégia está no Evangelho de hoje; foi experimentada; deu resultados e está provado que é o único caminho para a mudança… É a aventura do amor recíproco; é o sonho de uma Sociedade justa; é a mudança para uma nova Civilização, a do Amor; é a promessa de um futuro melhor; é a convocatória de todos nós para sermos aliados de uma Nova Evangelização e de uma Nova Igreja… Vós, caríssimos jovens, sois os primeiros destinatários deste convite e desta vocação…
Dizei-me, então, caros jovens: acreditais em Jesus Cristo e nas Suas propostas?... Quereis, ao jeito dos Pastorinhos de Fátima, oferecer-vos para colaborar com Jesus e com a Sua mensagem?... Então, não tenhais medo de mudar os vossos hábitos, se eles são burgueses, velhos e comodistas!... Renunciai a tudo o que é sinal de violência, de hedonismo, de corrupção, de ódio, de vingança, de preguiça, de pessimismo!… Pegai na Cruz do Amor, da solidariedade, da justiça, da coerência, da verdade, da paz e tornai-vos mensageiros e apóstolos desta mudança e desta opção que transformará o mundo, quando (e depois de) transformar cada um e cada uma de vós!…
Renunciai a tudo o que seja sinal de morte, ainda que esteja na moda ou seja o parecer da maioria e pegai na Cruz do amor e sentido da vida, amando e respeitando toda e qualquer pessoa humana, nas suas diferenças culturais, sociais, raciais, políticas ou religiosas!… Renunciai à destruição da família, ainda que pareça mais fácil e seja mais moderno e pegai na Cruz dos valores do matrimónio, da sexualidade, vivida no amor e na entrega, da beleza e grandeza da castidade e da responsabilidade!… Renunciai ao facilitismo e à superficialidade de uma Fé sem conteúdos e sem compromissos e pegai na Cruz da formação permanente e das consequências da Eucaristia e da Oração na vida e nos ambientes!… Que Maria, a Mãe, Aquela que fez a opção de ser acolhedora da Palavra do Pai, dando à luz o Amor tornado Pessoa, em Jesus Cristo, nos ajude a saber pegar na nossa Cruz e a termos coragem para renunciarmos a tudo o que nos impede de fazer as verdadeiras e necessárias opções, ao serviço da urgente mudança e da necessária renovação de todas as coisas. Nós vos pedimos, ó Mãe, que intercedais por nós ao Pai do Céu, pela mediação de Jesus Ressuscitado, vosso Filho, que vive na unidade do Espírito Santo. AMEN!... ALELUIA!...
Uma grande proposta, um grande desafio. Válido para ti e para mim, jovens cristãos, para ti amigo desatento, para vocês colegas e amigos descrentes "aqueles que, não vivendo uma relação efectiva com Jesus Cristo, buscam a felicidade e realização pessoal, investindo as suas energias e capacidades na construção de um mundo melhor". Uma mensagem que, sem nada ter de extraordinário, parece, tantas vezes, tão para lá da nossa vontade. Compromisso é a palavra-chave.
Um texto para guardar e ir relendo.

terça-feira, maio 08, 2007

Fátima Sara 2007

6 de Maio de 2007 , 22:30

É, muitas vezes, difícil começar a escrever sobre coisas muito diferentes. Sobre as coisas que nos fazem felizes, sobre as coisas que não nos fazem tão felizes, sobre as coisas que nos magoam, sobre as coisas que nos restituem a alegria, sobre as coisas do passado, sobre as coisas do presente e sobre as coisas que são planos de futuro.
E enquanto me decido por onde começar, já que é tão difícil começar a escrever sobre coisas tão diferentes, começa a ser tão complicado começar a escrever sobre coisas tão diferentes como são as coisas que mexem connosco, que não seria de admirar que começasse por escrever que, realmente, é, muitas vezes, difícil começar a escrever sobre coisas muito diferentes.
Não tenho dúvidas de que se o peito tivesse um chão que me sustivesse a mim, a meia dúzia de papéis e a um lápis amarelo e preto pouco afiado HB2, seria aí que eu me sentaria encostada ao coração, para escrever no extremo do sentimento, onde estou agora.

(Tenho um zumbido nos ouvidos. Deve ter sido do sol na cabeça. Contento-me com a vulgaridade do diagnóstico. Pois bem…)

Não tenho grande memória. Nunca tive. Há muitas coisas de que não me lembro e tenho pena. Sei que daqui a um tempo vão restar poucas lembranças e que muitas delas só me serão devolvidas pelas imagens, conversas e palavras de outros. Mas não me esquecerei nunca de que tudo aquilo de que não me lembro foi vivido no limiar da plenitude. E isso contenta-me. Muito. Muito!

Fátima Jovem 2007 foi mais uma grande experiência e uma grande experiência em grande. Fomos muitos. Fomos 70. Fomos 700. Fomos milhares.
Começamos por caminhar umas horas. E que difícil que foi o caminho durante a primeira hora. Havia ainda muita energia nas passadas e isso valeu mais naquele terreno incerto e de terra vermelha. Trouxemos na memória do olfacto as lufadas de alfazema, de tomilho e de rosmaninho com que a natureza nos pontuou o caminho. A paisagem era bonita, mas ficou perfeita quando completada por um serpenteado colorido de jovens que começavam uma caminhada, em mês de Maria, rumo à casa de Maria que os acolhe há já muitos anos, sempre por esta altura.
Houve tempo e espaço para muitas coisas. E que fácil que era deixarmo-nos simplesmente conquistar pela natureza que nos envolvia, pelas pessoas que nos rodeavam, pelas notas e palavras misturadas com risos e sorrisos, canções, brincadeiras e muita alegria.
Fizemos opções, como nos exige a Vida a cada instante. Boas, menos boas, cooperantes ou não. Mas todo o caminho que é caminho acaba por nos pôr as dificuldades e as barreiras características que, somadas aquelas que, sem necessidade, lhe acrescentamos, acabam por nos dificultar o percurso. Quem dera que se tenham arrecadado as pedras e que se construam castelos. Um dia.
Já no santuário houve tempo e espaço para nos encontrarmos com Maria e lhe abrirmos o coração. Escolhemos o sítio para nós ideal, deixámo-nos ficar enquanto quisemos.
Fátima tem isto de nos levar até lá sem qualquer esforço. Sem qualquer esforço, vamos por ser assim. Sem sacrifício algum, apesar das plantas dos pés doridas, das bolhas, das pernas cansadas, do frio ou do calor, da fome e da sede, do cansaço de cada um. Mas Fátima leva-nos e nós vamos. Cativa-nos e nós ficamos. Envia-nos e nós voltamos com vontade de regressar. Fátima com jovens chega ao âmago de cada um e chegou ao meu. Ainda me arrepia lembrar-me da meia hora de espera, antes de entrarmos no auditório Paulo VI. Aquele tecto é tão baixo e nós saltámos tão alto. Aquele espaço é tão pequeno e nós gritamos com tanta força. Em cada ano aquela meia hora e o tempo que dispensamos no auditório são diferentes. Em cada ano os muitos que lá estamos, a força com que cantamos, a energia com que saltamos, renovam em mim a esperança nos jovens que somos, mas também a revolta de, sendo tantos e transbordado tantas formas diferentes de energia que conjugadas são quase transcendentes, ainda não nos termos empenhado verdadeiramente na mudança deste mundo.
À noite, a recitação do rosário, como Maria pediu um dia a três crianças, estreitou laços invisíveis e até imperceptíveis entre nós. A oração em grupo faz-nos chegar mais longe com as nossas motivações e desvanece em nós as preocupações, as dúvidas, as nossas dificuldades de cristãos na sociedade de agora, porque somos muitos, porque nos partilhamos e estamos reunidos em nome dEle e em comunhão com o Mundo.
O auditório Paulo VI voltou a acolher a vigília que este ano se centrou no ecumenismo e na cruz ecuménica. E foi bonito. Pôs-nos à prova a vontade com que deixamos Deus estar e ficar entre nós, com que nós vamos querendo estar com Ele.
Eleger um momento marcante deste encontro Fátima Jovem não me é possível. Não procuro a excelência de um momento para lembrar para sempre. Não faço isso com nada. Gosto de ser assim. Gosto de saber maravilhar-me, sem esforço, com todas as coisas e de reconhecer nelas a mão de Deus. Nas mais grandiosas e nas mais insignificantes, nas mais vistosas e nas mais imperceptíveis.
Atentar nos sorrisos ainda tímidos, à partida, de quem vai pela primeira vez, no brilho dos olhos rasos de expectativa de quem já sabe ao que vai, no nervosismo de responsabilidade de quem aposta em nós, nos cheiros do caminho, nas pedras que rolam por baixo das botas e quase me fazem escorregar, nas formas em que, em grupo nos dispomos, ao fazer o caminho, nos rebuçados que partilhaste comigo, na pressão do abraço que me deste, na gargalhada com que me encheste os ouvidos, nas nuvens que ameaçavam chuva, nas encruzilhadas onde já tínhamos discutido caminho, nas palavras que troco com quem ainda não conheço, naquelas que troco com quem já conheço, nas conversas sem sentido, nas piadas sem piada, nas pulseiras vermelhas, nas fitas verdes, nos comboios e “combóiadas”, na luz da minha vela, na procissão de luzes de milhares de velas e da nova perspectiva deste ano, na inclinação amorosa do rosto de Maria, na oração pela mãe que tenho, no silêncio, no cansaço, na tão desejada água quente do banho, no colchão que temos este ano, no repouso, na oração às refeições, nas palavras daquela irmã de sorriso tímido mas tão pleno, no tempo que vão demorar a deixar-te dormir hoje, no teu aniversário, na broa e na chouriça que trouxeste para partilhar connosco, na tua irresponsabilidade que me faz sentir que há mais por onde posso ajudar, na certeza de que tu vais para casa mais preenchida e com vontade de voltar, na certeza de que vocês serão “nossos meninos” um dia, na expectativa de vos mostrarmos como Ele nos basta, na letra das canções, em ti que eu mal conhecia, no teu sorriso transbordante de felicidade e nas histórias de missão que contaste, no diminutivo “Sarinha” com que ainda me tratas, nas ararutas com doce, queijo e fiambre, nas ararutas “com nada”, nos ursinhos vermelhos de comer e nos trajectos esquisitos que percorrem até chegarem ao estômago, na flor que me deste sem me conheceres, nas palavras que não disse, no choro que contive, na desilusão que me causaste, na conversa que ainda não tivemos, nos Magnun que comi e que eram uma doidice, na reflexão na amizade que temos, na certeza de que continuará, na confiança que depositaste em mim, nas parvoíces que disseste e fizeste, na homilia que me fizeste chegar ao coração, nas palavras que usaste, nas questões que levantaste e nos desafios que nos deixaste, na palavra “envio” que repetiste, na perspectiva de “cruz” que nos mostraste, nos milhares de lenços brancos, na palavra “adeus” e no fechar os olhos para sentir sem ver, na cor que predominava, na fotografia de grupo, nos saltinhos tontos e no “um, dois, três”, no fazer o saco e no aperto de nostalgia que aparece sempre nessa altura, na chamada cuidadosa por cada um de nós à entrada do autocarro, na pouca queda que tenho para as cordas e para as palhetas, no caminho de regresso, no lugar que escolheste, nas risadas estridentes, nos teus vários sonos interrompidos, nos voos das canetas de uma ponta à outra do autocarro, nas dedicatórias dos lenços brancos, na chegada à nossa terra e ao nosso ringue, no abraço colectivo no jardim e no “Voa bem mais alto com o “quero tudo abraçado e a cantar para acabar” que nunca falha, na simpatia da boleia para casa, na coincidência de quem parece estar lá de propósito à espera para que o teu carro possa arrancar, na entrada em casa, na docilidade da Laila que me espera, nos saltos dela e nas lambidelas fieis, no barulho das fitas da porta da cozinha que te faz olhar para trás, no beijo em ti mãe porque é o teu dia, nas poucas palavras que disse porque vimos sempre assim, no jantar que esperou que eu chegasse, no turbilhão de sentimentos que tive na cabeça enquanto fazia o saco para voltar a Lisboa, na cama onde estou agora, no zumbido que tenho nos ouvidos e que afinal se deve dever à quantidade infindável de coisas que trouxe e que ainda não organizei nas gavetas da memória, na oração da noite, na certeza de que o sono será tranquilo e de que me vai restabelecer, no dar graças pela possibilidade de ir, ser e estar inteira em tudo o que vivi.
Obrigada a Ti e a cada um.

“Toma a tua Cruz e segue-Me vive sem medo de te dares (…) Pára para veres tudo aquilo que és, é no teu amor que Ele está.”

segunda-feira, abril 30, 2007

Ne me quitte pas.

Ne me quitte pas / Je t'inventerai / Des mots insensés / Que tu comprendras / Je te parlerai / De ces amants là / Qui ont vu deux fois / Leurs coeurs s'embrasser / Je te raconterai / L'histoire de ce roi / Mort de n'avoir pas / Pu te rencontrer / Ne me quitte pas / Ne me quitte pas / Ne me quitte pas / Ne me quitte pas (...)

Jacques Brel

Tenho pensado na memória. E tenho escrito sobre a memória. Somos feitos dessa matéria difícil de descrever, a guardar o que foi melhor e a tentar esconder no seu fundo o que foi pior. Porque tudo nos habita, até o esquecimento. Somos feitos das coisas que vivemos, daquilo que nos disseram ou que dissemos (ou que não nos disseram e que não dissemos), de gestos, muitos gestos, nossos e das "nossas" pessoas em nós. Somos feitos de momentos pequeninos aos quais se calhar não demos nenhuma importância, e que um dia, de repente, percebemos que são aquilo que "cola" uns aos outros todos os outros momentos.

Mafalda Veiga

Hoje estava capaz de... perder a cabeça.

Deixá-la a rolar entre pés e passadas, (quase) sem direcção predefinida, certa de que não deixaria de acertar cada milímetro rolado, de tão desnivelado que está o chão do pensamento.

sábado, abril 21, 2007

Crónica de um ciclo cardíaco em tempo de fisiologia renal

“Assim como solfejo e escalas ainda não são a música…”

Um, dois, três… zUm, dois, três… zUm, dois, três… Há já muito que diástoles e sístoles não se sucedem continuamente, a cada ciclo, neste coração que empenou num compasso ternário exaustivo: Um, dois, três… zUm (bate com a mão na mesa), dois, três…zUm (bate com a mão na mesa e dói), dois, três… zUm (já tenho lágrimas para cair sem saber encaixar uma tercina no primeiro tempo do compasso), dois, três…
A primeira aula de solfejo dói-me, ainda, na pele da palma da mão direita que acusou a aspereza da mesa, já velha e de esquinas farpadas.
E é como a primeira aula de solfejo, o primeiro amor amargado a sério.
Fecha-te o coração numa sala. Senta-te a uma mesa de esquinas falhadas, em que candeeiro único e velho só permite à sala a luz baixa e amarela que dá ao papel pautado a cor dos escritos de Beethoven que pensas lembrar-te de ver nuns filmes. Ainda te assusta o busto desse homem que ter contaram ser surdo e que está pousado na prateleira acima da mesa velha, ao lado do tinteiro antigo e da jarra de flores artificiais, vermelhas escuras do pó.
Nunca soubeste manter por ele uma pena, uma piedade pelo infortúnio que havia sofrido. Criança, ainda, não vias onde poderia estar a genialidade de, sendo surdo, compor música como nenhum outro pleno de todos os sentidos.
Retornada à sala de paredes de um verde-velho escusado, atentas no olhar austero que o busto pousa, agora, em ti. A persistência dele amedronta-te e leva-te os olhos à folha de papel onde, aliás, já os devias ter. Há paciência. Na segunda pauta - porque te ensinam a deixar sempre a primeira em branco - já te rascunham umas notas que são ainda bolinhas pretas e bolinhas brancas, perninhas e pontinhos, dentro de casinhas limitadas, onde te imporão, depois, que imagines dois, três e quatro tempos.
É como a primeira aula de solfejo, o primeiro amor, a sério, sofrido.
Não te permite, por muito tempo, para além do pouco tempo que cabe ao início de qualquer coisa, a dualidade do binário. Esse é simples, bonito até, no início. Um em baixo e expiras, dois em cima e inspiras. É simples, bonito, até. No início, a ponto de poder tornar-se aborrecido.
O piano, já ali, já te promete os três tempos das valsas apaixonadas dançadas nos grandiosos salões das cortes que vês nos mesmos filmes, mas tens que voltar ao binário que, entretanto, acaba, perdendo o encanto inicial dos suspiros prolongados entre o um e o dois.
“Agora vamos ao ternário que é um bocadinho mais difícil!”. Que bocadinho? Alguém perde a noção do difícil, enquanto deixam de te restar dúvidas de que é como a primeira aula de solfejo, a sério, o primeiro amor sofrido.
Vês-te de coração encurralado em casinhas de três tempos limitadas por duas linhas verticais, onde só te é permitida a fuga quando estás ainda na primeira, e por uma íngreme e possivelmente interminável escada em caracol. Depois, ultrapassada essa primeira casinha, desgastar-te-às, a cada outra, a encaixar por antecipação o número imprevisível de notas do compasso seguinte, já que são como casinhas de compassos de conteúdo imprevisto, os dias, a sério, sofridos à conta do primeiro amor a sério.
Não afinas à primeira, mas afinas à segunda.
Não atinas à primeira, nem à segunda e já não partes confiante para a terceira.
E dás por esse coração que solfeja tempo a tempo, nota a nota descompassado do metrónomo, ao lado do busto.
E vês que é como o metrónomo o primeiro amor por quem sofres a sério. Como na tua primeira aula de solfejo.
“É como juntar, ao ternário, o binário!”. Pois é. Mas criança, ainda, no solfejo do amor, não te parece de todo possível. Como será sequer pensável fazer coincidir a rigidez do um dois do metrónomo preciso e teimoso, com três tempos um dois a inspirar, três a expirar já confundidos com um suspiro a que se seguem outros que acabam com o tempo, inevitavelmente, por desacertar?
“É só encaixares três tempos num segundo prolongado de um relógio, sabes?”. Sei, claro. És tu quem sabe, se és tu quem ensina.
Talvez se desvaneça, um dia, o um dois do metrónomo, mesmo que persista a precisão da agulha que oscila rígida entre a esquerda e a direita, numa fluidez inconsistente, qual pêndulo ao contrário que te resgata o olhar e a consciência. Perder-se-à, o um dois, no fundo do fundo do peito – que não me consta que tenha fundo – para onde vão as métricas da vida, não as do coração? Não tens resposta o que não te impede de preferir ficar nessa tua quase certeza.
Que fique, então, suspenso, o um dois, capaz de te despertar a cada três tempos suspirados, eventualmente, fora do segundo prolongado dos ponteiros do relógio, para te lembrar que é como a primeira aula de sofejo, o primeiro amor que sofres a sério.

quinta-feira, abril 19, 2007

Me gustas cuando callas porque estás como ausente.

"Una palabra entonces, una sonrisa bastan.
Y estoy alegre, alegre de que no sea cierto."
Pablo Neruda

sábado, abril 14, 2007

Ele está que está aí...

Outro ano, o mesmo espírito, outro fim-de-semana, a mesma vontade, outra oportunidade, as mesmas propostas, outras dúvidas, o mesmo desafio, outro caminho, a mesma caminhada, outras dificuldades, as mesmas barreiras, outras pessoas, o mesmo caldeirão de emoções e sentimentos, outro encontro, o mesmo estar, outra proximidade, o mesmo lugar, outra aposta, as mesmas expectativas, outro medo, a mesma confiança, outras pessoas, o mesmo ideal, outro grupo, a mesma animação, outras vozes, a mesma canção, outro tempo, o mesmo conforto, outro par de sapatos, o mesmo cansaço, outra vela, a mesma chama, outro chão, o mesmo frio, outra disposição, a mesma vontade, outro calor, o mesmo sol, outras vozes, o mesmo amor, outra t-shirt, a mesma cor, outra terra, a mesma diocese, outros jovens, o mesmo Cristo.
Outra vez Fátima Jovem, a mesma ansiedade.

quarta-feira, abril 11, 2007

Não sei que diga. Não sei que partilhe. Aceitam-se sugestões. Fica a música. Gosto da letra.

Nao vou procurar quem espero, Se o que eu quero é navegar, Pelo tamanho das ondas, Conto nao voltar, Parto rumo à Primavera, Que em meu fundo se escondeu, Esqueco tudo do que eu sou capaz, Hoje o mar sou eu, Esperam-me ondas que persistem, Nunca param de bater, Esperam-me homens que resistem, Antes de morrer, Por querer mais do que a vida, Sou a sombra do que eu sou, E ao fim nao toquei nem nada, Do que em mim tocou, Eu vi, mas nao agarrei, Eu vi, mas nao agarrei, Parto rumo à maravilha, Rumo à dor que houver p'ra vir, Se eu encontrar uma ilha, Paro p'ra sentir, E dar sentido à viagem, A sentir que eu sou capaz, Se o meu peito diz "Coragem!", Volto a partir em paz, Eu vi,mas nao agarrei, Eu vi,mas nao agarrei, Eu vi, mas nao agarrei, Eu vi, mas nao agarrei.

segunda-feira, abril 09, 2007

Em altura de regresso ao trabalho duro...

...demos ouvidos às lições da Mary Popins porque "just a spoonful of sugar helps the medicine go down in a most delightful way!"

sexta-feira, abril 06, 2007

Some sort of window to your right.

Step one you say we need to talk He walks you say sit down it's just a talk He smiles politely back at you You stare politely right on through Some sort of window to your right As he goes left and you stay right Between the lines of fear and blame And you begin to wonder why you came Where did I go wrong, I lost a friend Somewhere along in the bitterness And I would have stayed up with you all night Had I known how to save a life Let him know that you know best Cause after all you do know best Try to slip past his defense Without granting innocence Lay down a list of what is wrong The things you've told him all along And pray to God he hears you And pray to God he hears you Where did I go wrong, I lost a friend Somewhere along in the bitterness And I would have stayed up with you all night Had I known how to save a life As he begins to raise his voice You lower yours and grant him one last choice Drive until you lose the road Or break with the ones you've followed He will do one of two things He will admit to everything Or he'll say he's just not the same And you'll begin to wonder why you came Where did I go wrong, I lost a friend Somewhere along in the bitterness And I would have stayed up with you all night Had I known how to save a life.

quarta-feira, março 07, 2007

De todo na lua.

Nota: reservo-me o direito de gostar desta música e, se tiver que ser, de me comover até às lágrimas. E "mai nada"!

"Sinto dizêêê... qui amo meismo... 'tá ruím p'ra disfarçááá!"

=)

quarta-feira, fevereiro 28, 2007

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

SARA

Blá blá blá... já lá vai o tempo em que...

"Sara: do hebraico, significa princesa. É uma pessoa predisposta ao sucesso profissional. Sua vontade de vencer é bem maior do que as dificuldades que possam aparecer. É uma pessoa com tendência a enriquecer."


S.A.R.A. - SÍNDROME DE ANGÚSTIA RESPIRATÓRIA AGUDA

A Síndrome de Angústia Respiratória Aguda (ARDS ou SARA) é uma nova e mais apropriada denominação para a Síndrome de Angústia Respiratória do Adulto (também denominada SARA), pelo menos por 2 razões. Primeiro, porque a SARA foi denominada originalmente síndrome de angústia respiratória do adulto em função de suas similaridades com a RDS (Respiratory Distress Syndrome ou Membrana Hialina) a qual ocorre em crianças prematuras. Este termo provou ter sido um engano, fundamentalmente porque a patologia da SARA e da...
BLÁ BLÁ BLÁ...

Definição de SARA

A SARA é uma constelação clínica de anormalidades fisiológicas e radilológicas, que ocorrem seguindo-se a um identificável cataclisma clínico. Desde que a SARA é uma síndrome e não uma doença específica, qualquer definição de SARA envolve uma arbitrariedadade importante. A maioria das definições de SARA se originaram pelo propósito clínico de pesquisa clínica e tem propagado a ideia de que a SARA é um fenómeno do tudo ou nada. A validade desta hipótese não tem sido testada e a noção de que a SARA é um fenómeno que varia em severidade está crescendo em popularidade. O espectro da SARA pode variar desde um processo subclínico de disfunção pulmonar compensada, a qual é facilmente tratável com oxigénio inspirado enriquecido ou mesmo PEEP, até um severo edema pulmonar não-cardiogênico com insuficiência respiratória irreversível. A opinião recente do consenso Americano-Europeu sobre SARA serve como a mais sensível das definições de SARA.
Predisposições, incidência e índices de sobrevida:

Por quase mais de três décadas, reportes de casos e pequenas séries de uma maneira crescente se referiam de modo mais complexo e associações cada vez menos usuais relacionados com eventos etiológicos da SARA. As maiores categorias de eventos classificados como de maior risco para o desenvolvimento de SARA podem ser divididos em injúria pulmonar directa e injúria pulmonar indirecta.

Predisposição para a SARA:

Em uma série recente, a Síndrome Séptica e o Trauma Múltiplo foram os factores que mais frequentemente levaram à predisposição de SARA, acontecendo em aproximadamente 40 a 25% dos pacientes predispostos. Em pacientes pediátricos, a incidência de SARA continua a se de 12% para pacientes considerados de alto risco admitidos com sepse, pneumonia viral, inalação de gases ou fumo ou ainda quase-afogamento.
Ainda não existe uma terapia específica para a SARA, porém o tratamento suportivo para SARA relacionado com a Síndrome Séptica melhorou a sobrevida destes pacientes em 30 a 40% nos últimos anos. Suchyta et al. relataram que sobrevida de SARA severa passou de 11% para 40% entre 1970 e 1990.

Estudos com o uso de anti-endotoxina ou terapia anti-citocina específica ainda não foram realizados especificamente em pacientes com SARA. Actualmente, estas terapias não provaram trazer beneficio significativo para os pacientes com Sepse.
Outras terapias propostas, tais como reposição de surfactante exógeno, tratamento com inibidores da ciclooxigenase ou Prostaglandina E, ou terapias direccionadas a genes específicos parecem ter benefícios teóricos porém sem eficácia comprovada.
Enfim... sem outros posts de momento!
Uma semana em grande,
S.A.R.A

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

segunda-feira, fevereiro 19, 2007

Praia das Lágrimas

Ó mar salgado eu sou só mais uma
Das que aqui choram e te salgam a espuma
Ó mar das trevas que somes galés
Meu pranto intenso engrossa as marés
Ó mar da indía lá nos teus confins
De chorar tanto tenho dores nos rins
Choro nesta areia salina será
Choro toda a noite seco de manhã
Ai ó mar roxo ó mar abafadiço
Poupa o meu homem não lhe dês sumiço
Que sol é o teu nesses céus vermelhos
Que eles partem novos e retornam velhos
Ó mar da calma ninho do tufão
Que é do meu amor seis anos já lá vão
Não sei o que os chama aos teus nevoeiros
Será fortuna ou bichos-carpinteiros
Ó mar da china samatra e ceilão
Não sei que faça sou viúva ou não
Não sei se case notícias não há
Será que é morto ou se amigou por lá.


in Auto da Pimenta, Carlos Tê / Rui Veloso

sábado, fevereiro 10, 2007

Não lhe sopres que ela apaga-se e não terei como provar-te que vi a luz por cima do teu ombro, se não vês uma por cima do meu.

Não sou muito de palavras faladas, daí que costume deixar estas reflexões para os lápis até que se consume tudo nos riscos e rabiscos que acabam perdidos nas gavetas, nas caixas dos sapatos onde cabe sempre mais uma pedra, mais uma flor, mas um guião, mais um postal, mais uma rolha, mais uma vela, logo também, mais um papel.
Ultimamente deixo-as, também, para o teclado do computador e para o Paredão (o outro) que já conta com quase seis meses!
Mudei de caixa de sapatos. Aqui, vou-a forrando a papel de mar e de vento. De letras de cantigas, de imagens, de memórias. Enfim, de Vida.
Achei sempre que estes sítios virtuais acabavam por ser, inevitável e simultaneamente, espaços onde, aparentemente, suprimos aquela necessidade humana e inconsciente de nos expormos perante os outros nas mais diversas vertentes mas, também, formas de cobardemente o fazermos.
Talvez a partilha e a troca de ideias sejam bons contra-argumentos. Mas se o podemos fazer em torno de uma fogueira debaixo de um céu estrelado, sentados numa mesa de café ou até, e porque não, nas pedras de um qualquer paredão por esse país fora… porque reduzimos nós estas coisas que fortalecem relações a “blogues”, “aifaives”, “mensengeres” e mais coisas que tais?! Eu não sou, de todo, o melhor exemplo.
Mas, e porque por estes dias vem a propósito e também porque entretanto me perdi já no raciocínio, falemos de Amor.
“Á-ÉME-Ó-ÉRRE”, diria a Clementina que, por sinal, também é conhecida do Caetano.
Gostei quando o texto dizia “amar é uma condição”. Amar é uma condição. Amar é uma condição. Não me canso de dizer. Amar é uma condição.
C-o-n-d-i-ç-ã-o… o Word dá por sinónimo a palavra e-s-t-a-d-o.
Revi nesta frase a minha concepção de Amor. Amor é, para mim, o estado de estar… em Amor. E estar em Amor é o estado de estar bem.
Quem me conhece (muito bem) percebe que às vezes me perco na infinidade de labirintos que trago na cabeça e é-me, realmente, difícil escrever sobre o Amor.
Ontem ouvia falar em projectos de vida que se têm e que, de alguma forma, fazemos por sobrepor a outros possíveis trilhos que podíamos tomar neste intervalo concedido. Eu vou deixando isso a cargo do tempo e dos rumos que vou tomando. Enfim, de Deus. Não que não projecte, bem ou mal, um Amor N-E-O-Q-E-T-A construído por baixo. E aí o Amor é também ele um projecto. Mas de dois. E como todos os projectos para ser bem sucedido exige empenho, muito empenho. Mas de dois.
No entanto, não ponho de parte outras formas de estar em Amor que me sejam solicitadas com o passar do tempo. Daí que não estipule, então, esses estados de estar em Amor que espero que venham, por ir reconhecendo nos meus dias os sinais, as luzes que vão clareando a estrada à frente dos meus pés.
É-nos pedido a cada instante que deixemos o Amor ser o motor do nosso mundo. E por incrível que pareça, sendo algo tão simples, parece tantas vezes tão impossível de concretizar. Mas pergunto-me, tantas mais vezes, o que faço eu nesse sentido!
É, ou devia ser, assim nas relações, nas famílias, nas comunidades, nos trabalhos, no entretenimento.
Permitam-me achar que hoje as relações humanas se perdem nos floreados, quando o essencial é não só aquilo que se vê nos olhos do outro mas o que está para lá dos olhos do outro. Para dentro. E é aí que se distingue o Amor íntegro, aquele que faz brilhar as luzes por cima dos ombros de cada um.
Assim, amar é, realmente, um modo de vida.
E que bom que era se em tudo o que fazemos puséssemos dedicação com muito afecto.
Puséssemos nós muito Amor!

Escreve-nos a nós jovens, assim, o Papa Bento XVI a propósito do Dia Mundial da Juventude deste ano:

Everybody feels the longing to love and to be loved. Yet, how difficult it is to love, and how many mistakes and failures have to be reckoned with in love! There are those who even come to doubt that love is possible. But if emotional delusions or lack of affection can cause us to think that love is utopian, an impossible dream, should we then become resigned? No! Love is possible, and the purpose of my message is to help reawaken in each one of you - you who are the future and hope of humanity-, trust in a love that is true, faithful and strong; a love that generates peace and joy; a love that binds people together and allows them to feel free in respect for one another. Let us now go on a journey together in three stages, as we embark on a “discovery” of love.

Fala-nos, depois, das mais diversas fontes de Amor mas de Deus como a maior delas, mas também das diferentes formas de amar e na Santidade como uma delas e proposta e caminho para todos. Acaba, deste modo, a desafiar-nos a ousar amar onde e naqueles que, por mais diferentes ou mais distantes, nos parecem necessitados de um Amor para o qual não nos sentimos, por vezes, “qualificados”. Mas esse Amor, sendo o único meio para mudar o coração de um único homem e de toda a humanidade, de tornar frutuosas das relações entre homem e mulher, ricos e pobres, culturas e civilizações, é, de facto, aquele onde Deus quer a nossa aposta persistente e destemida.
E, se o há, termina com o segredo do maior Amor que está ao alcance de cada um e no qual reconhecemos a intenção e a dádiva de Deus, e a Eucaristia como a grande escola do Amor.
Amemos mais, amigos!
Vamos lá fazer a parte que nos cabe na construção deste mundo! De Amor!

http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/messages/youth/documents/hf_ben-xvi_mes_20070127_youth_en.html

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

"Eu estou a falar de Á - ÉME - Ó - ÉRRE!"

- Clementina, de que é que eu vou falar? Esqueci-me…
- Ah… tu vieste aqui para falar de um certo sentimento, uma maneira especial de sentir que aparece de vez em quando…
- Quando se está doente. Vamos falar de quando nos sentimos mal?
(…)
-
Diz-me lá e essa coisa sente-se com… os dedos dos pés, os ouvidos e o cabelo?!
- (…) mas normalmente quando acontece sente-se com o coraçãooo!

- Coração? Ah… essa é mesmo boa… talvez eu nunca tenha sentido isso antes!
- (…) ou então, João Esquecido, podemos sentir isso também por um amigo muuiitttooo eessspppeeecciiiaallll…
- Bom, deixa-me ver!
E por uma maçã?! Pode-se sentir isso também por uma maçã ou então por um par de botas?!
(…) Estou completamente a leste do que tu estás para aí a falar!
- Por favor João Esquecido!!! Eu estou a falar de A-M-O-R! Amooorr!!!
- Ahhh… amoooorrr!! Então porque não disseste logo?! Eu sei tudo sobre o amor! (…) Claro que sei! Eu tenho quilos de amor dentro de mim! Quilos e quilos… toneladas de amor! E até tenho uma maneira especial de mostrar às pessoas que gosto delas! (…) Assim: íííííííiúúúúúúúúúú

(Não resisti aquele: “Esquecido… João Esquecido…és tããããoooo meiguiiinnnhhhoooooo!”)

* * *