segunda-feira, abril 30, 2007

Ne me quitte pas.

Ne me quitte pas / Je t'inventerai / Des mots insensés / Que tu comprendras / Je te parlerai / De ces amants là / Qui ont vu deux fois / Leurs coeurs s'embrasser / Je te raconterai / L'histoire de ce roi / Mort de n'avoir pas / Pu te rencontrer / Ne me quitte pas / Ne me quitte pas / Ne me quitte pas / Ne me quitte pas (...)

Jacques Brel

Tenho pensado na memória. E tenho escrito sobre a memória. Somos feitos dessa matéria difícil de descrever, a guardar o que foi melhor e a tentar esconder no seu fundo o que foi pior. Porque tudo nos habita, até o esquecimento. Somos feitos das coisas que vivemos, daquilo que nos disseram ou que dissemos (ou que não nos disseram e que não dissemos), de gestos, muitos gestos, nossos e das "nossas" pessoas em nós. Somos feitos de momentos pequeninos aos quais se calhar não demos nenhuma importância, e que um dia, de repente, percebemos que são aquilo que "cola" uns aos outros todos os outros momentos.

Mafalda Veiga

Hoje estava capaz de... perder a cabeça.

Deixá-la a rolar entre pés e passadas, (quase) sem direcção predefinida, certa de que não deixaria de acertar cada milímetro rolado, de tão desnivelado que está o chão do pensamento.

sábado, abril 21, 2007

Crónica de um ciclo cardíaco em tempo de fisiologia renal

“Assim como solfejo e escalas ainda não são a música…”

Um, dois, três… zUm, dois, três… zUm, dois, três… Há já muito que diástoles e sístoles não se sucedem continuamente, a cada ciclo, neste coração que empenou num compasso ternário exaustivo: Um, dois, três… zUm (bate com a mão na mesa), dois, três…zUm (bate com a mão na mesa e dói), dois, três… zUm (já tenho lágrimas para cair sem saber encaixar uma tercina no primeiro tempo do compasso), dois, três…
A primeira aula de solfejo dói-me, ainda, na pele da palma da mão direita que acusou a aspereza da mesa, já velha e de esquinas farpadas.
E é como a primeira aula de solfejo, o primeiro amor amargado a sério.
Fecha-te o coração numa sala. Senta-te a uma mesa de esquinas falhadas, em que candeeiro único e velho só permite à sala a luz baixa e amarela que dá ao papel pautado a cor dos escritos de Beethoven que pensas lembrar-te de ver nuns filmes. Ainda te assusta o busto desse homem que ter contaram ser surdo e que está pousado na prateleira acima da mesa velha, ao lado do tinteiro antigo e da jarra de flores artificiais, vermelhas escuras do pó.
Nunca soubeste manter por ele uma pena, uma piedade pelo infortúnio que havia sofrido. Criança, ainda, não vias onde poderia estar a genialidade de, sendo surdo, compor música como nenhum outro pleno de todos os sentidos.
Retornada à sala de paredes de um verde-velho escusado, atentas no olhar austero que o busto pousa, agora, em ti. A persistência dele amedronta-te e leva-te os olhos à folha de papel onde, aliás, já os devias ter. Há paciência. Na segunda pauta - porque te ensinam a deixar sempre a primeira em branco - já te rascunham umas notas que são ainda bolinhas pretas e bolinhas brancas, perninhas e pontinhos, dentro de casinhas limitadas, onde te imporão, depois, que imagines dois, três e quatro tempos.
É como a primeira aula de solfejo, o primeiro amor, a sério, sofrido.
Não te permite, por muito tempo, para além do pouco tempo que cabe ao início de qualquer coisa, a dualidade do binário. Esse é simples, bonito até, no início. Um em baixo e expiras, dois em cima e inspiras. É simples, bonito, até. No início, a ponto de poder tornar-se aborrecido.
O piano, já ali, já te promete os três tempos das valsas apaixonadas dançadas nos grandiosos salões das cortes que vês nos mesmos filmes, mas tens que voltar ao binário que, entretanto, acaba, perdendo o encanto inicial dos suspiros prolongados entre o um e o dois.
“Agora vamos ao ternário que é um bocadinho mais difícil!”. Que bocadinho? Alguém perde a noção do difícil, enquanto deixam de te restar dúvidas de que é como a primeira aula de solfejo, a sério, o primeiro amor sofrido.
Vês-te de coração encurralado em casinhas de três tempos limitadas por duas linhas verticais, onde só te é permitida a fuga quando estás ainda na primeira, e por uma íngreme e possivelmente interminável escada em caracol. Depois, ultrapassada essa primeira casinha, desgastar-te-às, a cada outra, a encaixar por antecipação o número imprevisível de notas do compasso seguinte, já que são como casinhas de compassos de conteúdo imprevisto, os dias, a sério, sofridos à conta do primeiro amor a sério.
Não afinas à primeira, mas afinas à segunda.
Não atinas à primeira, nem à segunda e já não partes confiante para a terceira.
E dás por esse coração que solfeja tempo a tempo, nota a nota descompassado do metrónomo, ao lado do busto.
E vês que é como o metrónomo o primeiro amor por quem sofres a sério. Como na tua primeira aula de solfejo.
“É como juntar, ao ternário, o binário!”. Pois é. Mas criança, ainda, no solfejo do amor, não te parece de todo possível. Como será sequer pensável fazer coincidir a rigidez do um dois do metrónomo preciso e teimoso, com três tempos um dois a inspirar, três a expirar já confundidos com um suspiro a que se seguem outros que acabam com o tempo, inevitavelmente, por desacertar?
“É só encaixares três tempos num segundo prolongado de um relógio, sabes?”. Sei, claro. És tu quem sabe, se és tu quem ensina.
Talvez se desvaneça, um dia, o um dois do metrónomo, mesmo que persista a precisão da agulha que oscila rígida entre a esquerda e a direita, numa fluidez inconsistente, qual pêndulo ao contrário que te resgata o olhar e a consciência. Perder-se-à, o um dois, no fundo do fundo do peito – que não me consta que tenha fundo – para onde vão as métricas da vida, não as do coração? Não tens resposta o que não te impede de preferir ficar nessa tua quase certeza.
Que fique, então, suspenso, o um dois, capaz de te despertar a cada três tempos suspirados, eventualmente, fora do segundo prolongado dos ponteiros do relógio, para te lembrar que é como a primeira aula de sofejo, o primeiro amor que sofres a sério.

quinta-feira, abril 19, 2007

Me gustas cuando callas porque estás como ausente.

"Una palabra entonces, una sonrisa bastan.
Y estoy alegre, alegre de que no sea cierto."
Pablo Neruda

sábado, abril 14, 2007

Ele está que está aí...

Outro ano, o mesmo espírito, outro fim-de-semana, a mesma vontade, outra oportunidade, as mesmas propostas, outras dúvidas, o mesmo desafio, outro caminho, a mesma caminhada, outras dificuldades, as mesmas barreiras, outras pessoas, o mesmo caldeirão de emoções e sentimentos, outro encontro, o mesmo estar, outra proximidade, o mesmo lugar, outra aposta, as mesmas expectativas, outro medo, a mesma confiança, outras pessoas, o mesmo ideal, outro grupo, a mesma animação, outras vozes, a mesma canção, outro tempo, o mesmo conforto, outro par de sapatos, o mesmo cansaço, outra vela, a mesma chama, outro chão, o mesmo frio, outra disposição, a mesma vontade, outro calor, o mesmo sol, outras vozes, o mesmo amor, outra t-shirt, a mesma cor, outra terra, a mesma diocese, outros jovens, o mesmo Cristo.
Outra vez Fátima Jovem, a mesma ansiedade.

quarta-feira, abril 11, 2007

Não sei que diga. Não sei que partilhe. Aceitam-se sugestões. Fica a música. Gosto da letra.

Nao vou procurar quem espero, Se o que eu quero é navegar, Pelo tamanho das ondas, Conto nao voltar, Parto rumo à Primavera, Que em meu fundo se escondeu, Esqueco tudo do que eu sou capaz, Hoje o mar sou eu, Esperam-me ondas que persistem, Nunca param de bater, Esperam-me homens que resistem, Antes de morrer, Por querer mais do que a vida, Sou a sombra do que eu sou, E ao fim nao toquei nem nada, Do que em mim tocou, Eu vi, mas nao agarrei, Eu vi, mas nao agarrei, Parto rumo à maravilha, Rumo à dor que houver p'ra vir, Se eu encontrar uma ilha, Paro p'ra sentir, E dar sentido à viagem, A sentir que eu sou capaz, Se o meu peito diz "Coragem!", Volto a partir em paz, Eu vi,mas nao agarrei, Eu vi,mas nao agarrei, Eu vi, mas nao agarrei, Eu vi, mas nao agarrei.

segunda-feira, abril 09, 2007

Em altura de regresso ao trabalho duro...

...demos ouvidos às lições da Mary Popins porque "just a spoonful of sugar helps the medicine go down in a most delightful way!"

sexta-feira, abril 06, 2007

Some sort of window to your right.

Step one you say we need to talk He walks you say sit down it's just a talk He smiles politely back at you You stare politely right on through Some sort of window to your right As he goes left and you stay right Between the lines of fear and blame And you begin to wonder why you came Where did I go wrong, I lost a friend Somewhere along in the bitterness And I would have stayed up with you all night Had I known how to save a life Let him know that you know best Cause after all you do know best Try to slip past his defense Without granting innocence Lay down a list of what is wrong The things you've told him all along And pray to God he hears you And pray to God he hears you Where did I go wrong, I lost a friend Somewhere along in the bitterness And I would have stayed up with you all night Had I known how to save a life As he begins to raise his voice You lower yours and grant him one last choice Drive until you lose the road Or break with the ones you've followed He will do one of two things He will admit to everything Or he'll say he's just not the same And you'll begin to wonder why you came Where did I go wrong, I lost a friend Somewhere along in the bitterness And I would have stayed up with you all night Had I known how to save a life.