terça-feira, maio 29, 2007

P'ra celebrar as borboletas que trazes no estômago.

Hoje, p'ra ti:

Quand il me prend dans ses bras, Il me parle tout bas, Je vois la vie en rose. Il me dit des mots d'amour, Des mots de tous les jours, Et ça m'fait quelque chose. Il est entré dans mon coeur, Une part de bonheur, Dont je connais la cause. C'est lui pour moi, Moi pour lui dans la vie, Il me l'a dit, l'a juré, Pour la vie. Et dès que je l'apercois, Alors je sens en moi Mon coeur qui bat.

Edith Piaf

segunda-feira, maio 28, 2007

Ordinary day (Dia normal)

Costumava deixar as flores que me davas no caminho da escola a secar nas páginas dos livros que sabia que lias. Mais tarde, foram poemas nas margens brancas ao lado dos textos, técnicos e enfadonhos, que sublinhavas. Ria-me sempre de imaginar-te rendido às promessas de amor inocentemente furtadas aos poetas dos tempos antigos com que juntos preenchemos, mais tarde, a estante comprada a meias. Escancarámos sorrisos às portas do coração ante o engenho posto no amor escrito daqueles trovadores do tempo dos reis, por não sabermos fazê-lo à sua maneira. Porque tínhamos o Amor na ponta dos dedos, nas palmas das mãos, no brilho aguado dos olhos, nas alegrias e nas tristezas que fazíamos, sempre, dos dois.
Mostrava os dentes nos sorrisos, punha outra entoação nas últimas palavras das frases. Deixava intenções nas entrelinhas da conversa, esquecia-me da mão no teu joelho. Mexia-te o açúcar do café e garantia-te o quadrado da tablete de chocolate preto ao lado. Tão religiosamente!

Quando penso no que nos fomos deixando ser chego sempre à conclusão de que nunca fomos tudo, para roçarmos sempre a inevitabilidade de podermos sê-lo. Ou não.
E há tanto para ser.

Je reve de toi (I dream about you) Plus près de moi (closer to you) I need you, I need you I need you, I need you Who loves you Who loves you Nos histoires (our stories) Nous separent (keep us apart) Je regrette ce temps qui passe. (i long for the time passing) It's an ordinary day Just an ordinary day Nothing much to laugh about Nothing much to cry about C'est comme ça du soir au matin (that’s how it goes from evening to morning) Y penser n'y changera rien (to think about won’t change a thing) Bien malgre moi, (even though i wish not) Tu vis en moi (you live inside me) I need you, I need you I need you, I need you Chaque jour se ressemble (everyday seems the same) A s'imaginer ensemble (thinking of us being together) On se manque et l'on se retient (we miss each other and we won’t tell) L'avenir semble si lointain (our future seems so far..) I need you pa ba da ba da I need you pa ba da ba da Tant d'espace (so much space) Nous separe (tears us up) Et si tu perdais ma trace (and if you were losing my track) It's an ordinary day Just an ordinary day Les jours se suivent et se ressemblent (days follow and remain the same) Separes mais toujours ensemble (apart but still together)

sábado, maio 19, 2007

Eu já estava a demorar.

Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma, até quando o corpo pede um pouco mais de alma, a vida não pára... e quando o tempo acelera e pede pressa, eu recuso, faço hora e vou na valsa, a vida é tão rara... enquanto todo mundo espera a cura do mal e a loucura finge que isso é normal, eu finjo ter paciência... O mundo vai girando cada vez nais veloz, a gente espera do mundo e o mundo espera de nós um pouco mais de paciência... será que é tempo que lhe falta para perceber, será que temos esse tempo pra perder e quem quer saber?! A vida é tão rara... tão rara... Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma, até quando o corpo pede um pouco mais de alma, a vida não pára... a vida não pára nao... será que é tempo que lhe falta para perceber, será que temos esse tempo para perder, e quem quer saber?! A vida é tão rara... tão rara... A vida é tão rara.

sábado, maio 12, 2007

(Ainda) Fátima Jovem 07

D. Ilídio Pinto Leandro
Bispo de Viseu e Presidente da Peregrinação "Fátima Jovem 2007"
Neste dia e neste lugar saúdo, em vós, caríssimos jovens, todos os jovens de Portugal: aqueles que, como cristãos, vivem a mesma Fé, nos seus grupos e nas suas dioceses, e aqueles que, não vivendo uma relação efectiva com Jesus Cristo, buscam a felicidade e realização pessoal, investindo as suas energias e capacidades na construção de um mundo melhor. Saúdo o Departamento Nacional da Pastoral da Juventude e todo o seu esforço por apontar caminhos e por propor estratégias para, nesses caminhos, convidar todos os jovens a viver a sua juventude cheia de valores, a partilhar em grupo e nos ambientes onde cada um se insere. Neste dia da Mãe, saúdo, convosco, Maria, a Mãe modelo e referência pelo seu amor à vida e à Fonte da Vida que irradia em todos nós vida em abundância. Nela, saúdo e rezo por todas as vossas Mães e por todas aquelas que acolhem a vida com alegria, com entusiasmo, amor, respeito e gratidão.
Celebramos um grande dia – o Fátima Jovem 2007 – com um tema exigente, somente capaz de motivar jovens exigentes e decididos a olhar de frente a vida, a própria, a dos outros e a da sociedade em geral. É um dos temas contra a corrente, que somente se partilha com os amigos e que tem sentido reflectir, somente quando se tem a certeza que se é compreendido. “Renuncia a ti mesmo! Pega na tua Cruz!”
É um tema vocacional no sentido pessoal e comunitário, que nos convida a olhar o texto e o contexto, pois as implicações são mesmo sérias, exigentes, com consequências certas, ainda que, de todo imprevisíveis.
Primeiro, supõe encontrar um ideal e fazer, por ele, uma séria opção. Depois, exige uma correcta estratégia, cortando com o status quo – o de cada um de nós e o dos ambientes que nos tocam e nos quais estamos inseridos…
Qual será esse ideal? É apontado na Palavra de Deus deste Domingo. Começa com um sonho (2ª), termina numa opção (2ª) e concretiza-se numa estratégia (3ª). Qual é o sonho? Ver e acreditar num futuro novo, numa sociedade nova, acabando com o pessimismo e a sina de lamentarmos uma sociedade decadente, velha e ultrapassada. Estamos cheios de conhecer e experimentar soluções falhadas, provocadas pela violência sem horizontes; pela ciência sem consciência; pela técnica sem pessoa e sem alma; pelo fácil sem compromisso; pelo prazer sem amor e sem responsabilidade; pela corrupção sem espírito crítico, sem vergonha, sem emenda e sem respeito pelos outros.
Qual a opção a fazer? Fazermos nossa a opção de Quem está sentado no trono, como nos diz a 2ª leitura – “vou renovar todas as coisas”.
A estratégia?!... Essa é constituída pelas exigências da Nova Evangelização: aventura; sonho e entusiasmo pela novidade; acto de fé na mudança; empenhamento para que tudo aconteça; sentir-se convocado e tornar-se o primeiro aliado da missão. Numa palavra, a estratégia é viver o Mandamento Novo do Senhor em toda a sua exigência, como nos vem descrito no Evangelho.
Caríssimos jovens, dizei a sério: estais satisfeitos com esta sociedade? Quereis continuar este caminho, sem futuro e sem retorno? Achais que é possível mudar e fazer melhor? Quereis empenhar-vos por dar o vosso contributo para uma nova Sociedade?...
Está aqui o segredo para a leitura do tema da nossa Peregrinação: Renuncia a ti mesmo!... Pega na tua Cruz!... É difícil? Sim, mas é possível. Sabeis que temos um Modelo!… O Seu nome é?!... Sim, é Jesus. Ele renunciou a viver a Sua Divindade junto do Pai, encarnando todas as situações dolorosas da Sociedade, do Seu e do nosso tempo; acreditou que era possível e fez a opção mais coerente, embora mais difícil; veio para junto de nós, pegando na Cruz da intolerância, da injustiça, da mentira, da corrupção, da morte… E, fazendo da estratégia o Seu caminho de vida, amou até ao fim e apontou-nos a Sua como a nossa estratégia – “Nisto conhecerão todos que sois Meus discípulos: se vos amardes uns aos outros”…
Está aqui o caminho para a mudança e para realizar o ideal de uma Sociedade Nova – implantar a Civilização do Amor… Com o Amor virá a justiça, a solidariedade, a paz, o respeito, a alegria, a verdade, o bem, um mundo novo e um futuro melhor… Esta estratégia está no Evangelho de hoje; foi experimentada; deu resultados e está provado que é o único caminho para a mudança… É a aventura do amor recíproco; é o sonho de uma Sociedade justa; é a mudança para uma nova Civilização, a do Amor; é a promessa de um futuro melhor; é a convocatória de todos nós para sermos aliados de uma Nova Evangelização e de uma Nova Igreja… Vós, caríssimos jovens, sois os primeiros destinatários deste convite e desta vocação…
Dizei-me, então, caros jovens: acreditais em Jesus Cristo e nas Suas propostas?... Quereis, ao jeito dos Pastorinhos de Fátima, oferecer-vos para colaborar com Jesus e com a Sua mensagem?... Então, não tenhais medo de mudar os vossos hábitos, se eles são burgueses, velhos e comodistas!... Renunciai a tudo o que é sinal de violência, de hedonismo, de corrupção, de ódio, de vingança, de preguiça, de pessimismo!… Pegai na Cruz do Amor, da solidariedade, da justiça, da coerência, da verdade, da paz e tornai-vos mensageiros e apóstolos desta mudança e desta opção que transformará o mundo, quando (e depois de) transformar cada um e cada uma de vós!…
Renunciai a tudo o que seja sinal de morte, ainda que esteja na moda ou seja o parecer da maioria e pegai na Cruz do amor e sentido da vida, amando e respeitando toda e qualquer pessoa humana, nas suas diferenças culturais, sociais, raciais, políticas ou religiosas!… Renunciai à destruição da família, ainda que pareça mais fácil e seja mais moderno e pegai na Cruz dos valores do matrimónio, da sexualidade, vivida no amor e na entrega, da beleza e grandeza da castidade e da responsabilidade!… Renunciai ao facilitismo e à superficialidade de uma Fé sem conteúdos e sem compromissos e pegai na Cruz da formação permanente e das consequências da Eucaristia e da Oração na vida e nos ambientes!… Que Maria, a Mãe, Aquela que fez a opção de ser acolhedora da Palavra do Pai, dando à luz o Amor tornado Pessoa, em Jesus Cristo, nos ajude a saber pegar na nossa Cruz e a termos coragem para renunciarmos a tudo o que nos impede de fazer as verdadeiras e necessárias opções, ao serviço da urgente mudança e da necessária renovação de todas as coisas. Nós vos pedimos, ó Mãe, que intercedais por nós ao Pai do Céu, pela mediação de Jesus Ressuscitado, vosso Filho, que vive na unidade do Espírito Santo. AMEN!... ALELUIA!...
Uma grande proposta, um grande desafio. Válido para ti e para mim, jovens cristãos, para ti amigo desatento, para vocês colegas e amigos descrentes "aqueles que, não vivendo uma relação efectiva com Jesus Cristo, buscam a felicidade e realização pessoal, investindo as suas energias e capacidades na construção de um mundo melhor". Uma mensagem que, sem nada ter de extraordinário, parece, tantas vezes, tão para lá da nossa vontade. Compromisso é a palavra-chave.
Um texto para guardar e ir relendo.

terça-feira, maio 08, 2007

Fátima Sara 2007

6 de Maio de 2007 , 22:30

É, muitas vezes, difícil começar a escrever sobre coisas muito diferentes. Sobre as coisas que nos fazem felizes, sobre as coisas que não nos fazem tão felizes, sobre as coisas que nos magoam, sobre as coisas que nos restituem a alegria, sobre as coisas do passado, sobre as coisas do presente e sobre as coisas que são planos de futuro.
E enquanto me decido por onde começar, já que é tão difícil começar a escrever sobre coisas tão diferentes, começa a ser tão complicado começar a escrever sobre coisas tão diferentes como são as coisas que mexem connosco, que não seria de admirar que começasse por escrever que, realmente, é, muitas vezes, difícil começar a escrever sobre coisas muito diferentes.
Não tenho dúvidas de que se o peito tivesse um chão que me sustivesse a mim, a meia dúzia de papéis e a um lápis amarelo e preto pouco afiado HB2, seria aí que eu me sentaria encostada ao coração, para escrever no extremo do sentimento, onde estou agora.

(Tenho um zumbido nos ouvidos. Deve ter sido do sol na cabeça. Contento-me com a vulgaridade do diagnóstico. Pois bem…)

Não tenho grande memória. Nunca tive. Há muitas coisas de que não me lembro e tenho pena. Sei que daqui a um tempo vão restar poucas lembranças e que muitas delas só me serão devolvidas pelas imagens, conversas e palavras de outros. Mas não me esquecerei nunca de que tudo aquilo de que não me lembro foi vivido no limiar da plenitude. E isso contenta-me. Muito. Muito!

Fátima Jovem 2007 foi mais uma grande experiência e uma grande experiência em grande. Fomos muitos. Fomos 70. Fomos 700. Fomos milhares.
Começamos por caminhar umas horas. E que difícil que foi o caminho durante a primeira hora. Havia ainda muita energia nas passadas e isso valeu mais naquele terreno incerto e de terra vermelha. Trouxemos na memória do olfacto as lufadas de alfazema, de tomilho e de rosmaninho com que a natureza nos pontuou o caminho. A paisagem era bonita, mas ficou perfeita quando completada por um serpenteado colorido de jovens que começavam uma caminhada, em mês de Maria, rumo à casa de Maria que os acolhe há já muitos anos, sempre por esta altura.
Houve tempo e espaço para muitas coisas. E que fácil que era deixarmo-nos simplesmente conquistar pela natureza que nos envolvia, pelas pessoas que nos rodeavam, pelas notas e palavras misturadas com risos e sorrisos, canções, brincadeiras e muita alegria.
Fizemos opções, como nos exige a Vida a cada instante. Boas, menos boas, cooperantes ou não. Mas todo o caminho que é caminho acaba por nos pôr as dificuldades e as barreiras características que, somadas aquelas que, sem necessidade, lhe acrescentamos, acabam por nos dificultar o percurso. Quem dera que se tenham arrecadado as pedras e que se construam castelos. Um dia.
Já no santuário houve tempo e espaço para nos encontrarmos com Maria e lhe abrirmos o coração. Escolhemos o sítio para nós ideal, deixámo-nos ficar enquanto quisemos.
Fátima tem isto de nos levar até lá sem qualquer esforço. Sem qualquer esforço, vamos por ser assim. Sem sacrifício algum, apesar das plantas dos pés doridas, das bolhas, das pernas cansadas, do frio ou do calor, da fome e da sede, do cansaço de cada um. Mas Fátima leva-nos e nós vamos. Cativa-nos e nós ficamos. Envia-nos e nós voltamos com vontade de regressar. Fátima com jovens chega ao âmago de cada um e chegou ao meu. Ainda me arrepia lembrar-me da meia hora de espera, antes de entrarmos no auditório Paulo VI. Aquele tecto é tão baixo e nós saltámos tão alto. Aquele espaço é tão pequeno e nós gritamos com tanta força. Em cada ano aquela meia hora e o tempo que dispensamos no auditório são diferentes. Em cada ano os muitos que lá estamos, a força com que cantamos, a energia com que saltamos, renovam em mim a esperança nos jovens que somos, mas também a revolta de, sendo tantos e transbordado tantas formas diferentes de energia que conjugadas são quase transcendentes, ainda não nos termos empenhado verdadeiramente na mudança deste mundo.
À noite, a recitação do rosário, como Maria pediu um dia a três crianças, estreitou laços invisíveis e até imperceptíveis entre nós. A oração em grupo faz-nos chegar mais longe com as nossas motivações e desvanece em nós as preocupações, as dúvidas, as nossas dificuldades de cristãos na sociedade de agora, porque somos muitos, porque nos partilhamos e estamos reunidos em nome dEle e em comunhão com o Mundo.
O auditório Paulo VI voltou a acolher a vigília que este ano se centrou no ecumenismo e na cruz ecuménica. E foi bonito. Pôs-nos à prova a vontade com que deixamos Deus estar e ficar entre nós, com que nós vamos querendo estar com Ele.
Eleger um momento marcante deste encontro Fátima Jovem não me é possível. Não procuro a excelência de um momento para lembrar para sempre. Não faço isso com nada. Gosto de ser assim. Gosto de saber maravilhar-me, sem esforço, com todas as coisas e de reconhecer nelas a mão de Deus. Nas mais grandiosas e nas mais insignificantes, nas mais vistosas e nas mais imperceptíveis.
Atentar nos sorrisos ainda tímidos, à partida, de quem vai pela primeira vez, no brilho dos olhos rasos de expectativa de quem já sabe ao que vai, no nervosismo de responsabilidade de quem aposta em nós, nos cheiros do caminho, nas pedras que rolam por baixo das botas e quase me fazem escorregar, nas formas em que, em grupo nos dispomos, ao fazer o caminho, nos rebuçados que partilhaste comigo, na pressão do abraço que me deste, na gargalhada com que me encheste os ouvidos, nas nuvens que ameaçavam chuva, nas encruzilhadas onde já tínhamos discutido caminho, nas palavras que troco com quem ainda não conheço, naquelas que troco com quem já conheço, nas conversas sem sentido, nas piadas sem piada, nas pulseiras vermelhas, nas fitas verdes, nos comboios e “combóiadas”, na luz da minha vela, na procissão de luzes de milhares de velas e da nova perspectiva deste ano, na inclinação amorosa do rosto de Maria, na oração pela mãe que tenho, no silêncio, no cansaço, na tão desejada água quente do banho, no colchão que temos este ano, no repouso, na oração às refeições, nas palavras daquela irmã de sorriso tímido mas tão pleno, no tempo que vão demorar a deixar-te dormir hoje, no teu aniversário, na broa e na chouriça que trouxeste para partilhar connosco, na tua irresponsabilidade que me faz sentir que há mais por onde posso ajudar, na certeza de que tu vais para casa mais preenchida e com vontade de voltar, na certeza de que vocês serão “nossos meninos” um dia, na expectativa de vos mostrarmos como Ele nos basta, na letra das canções, em ti que eu mal conhecia, no teu sorriso transbordante de felicidade e nas histórias de missão que contaste, no diminutivo “Sarinha” com que ainda me tratas, nas ararutas com doce, queijo e fiambre, nas ararutas “com nada”, nos ursinhos vermelhos de comer e nos trajectos esquisitos que percorrem até chegarem ao estômago, na flor que me deste sem me conheceres, nas palavras que não disse, no choro que contive, na desilusão que me causaste, na conversa que ainda não tivemos, nos Magnun que comi e que eram uma doidice, na reflexão na amizade que temos, na certeza de que continuará, na confiança que depositaste em mim, nas parvoíces que disseste e fizeste, na homilia que me fizeste chegar ao coração, nas palavras que usaste, nas questões que levantaste e nos desafios que nos deixaste, na palavra “envio” que repetiste, na perspectiva de “cruz” que nos mostraste, nos milhares de lenços brancos, na palavra “adeus” e no fechar os olhos para sentir sem ver, na cor que predominava, na fotografia de grupo, nos saltinhos tontos e no “um, dois, três”, no fazer o saco e no aperto de nostalgia que aparece sempre nessa altura, na chamada cuidadosa por cada um de nós à entrada do autocarro, na pouca queda que tenho para as cordas e para as palhetas, no caminho de regresso, no lugar que escolheste, nas risadas estridentes, nos teus vários sonos interrompidos, nos voos das canetas de uma ponta à outra do autocarro, nas dedicatórias dos lenços brancos, na chegada à nossa terra e ao nosso ringue, no abraço colectivo no jardim e no “Voa bem mais alto com o “quero tudo abraçado e a cantar para acabar” que nunca falha, na simpatia da boleia para casa, na coincidência de quem parece estar lá de propósito à espera para que o teu carro possa arrancar, na entrada em casa, na docilidade da Laila que me espera, nos saltos dela e nas lambidelas fieis, no barulho das fitas da porta da cozinha que te faz olhar para trás, no beijo em ti mãe porque é o teu dia, nas poucas palavras que disse porque vimos sempre assim, no jantar que esperou que eu chegasse, no turbilhão de sentimentos que tive na cabeça enquanto fazia o saco para voltar a Lisboa, na cama onde estou agora, no zumbido que tenho nos ouvidos e que afinal se deve dever à quantidade infindável de coisas que trouxe e que ainda não organizei nas gavetas da memória, na oração da noite, na certeza de que o sono será tranquilo e de que me vai restabelecer, no dar graças pela possibilidade de ir, ser e estar inteira em tudo o que vivi.
Obrigada a Ti e a cada um.

“Toma a tua Cruz e segue-Me vive sem medo de te dares (…) Pára para veres tudo aquilo que és, é no teu amor que Ele está.”