terça-feira, dezembro 01, 2009

The answer must be in the attempt.


I believe if there's any kind of God it wouldn't be in any of us, not you or me but just this little space in between. If there's any kind of magic in this world it must be in the attempt of understanding someone sharing something. I know, it's almost impossible to succeed but who cares, really? The answer must be in the attempt.

domingo, outubro 25, 2009

- Dois, "Tall" e sem açúcar. Se faz favor.


“For ten years the two of them sat every day

for several hours quite apart in the coffee-house.

That is a good marriage, you will say!

No. That is a good coffee-house.”

Alfred Polgar

sexta-feira, outubro 23, 2009

"Quero morrer de caneta na mão, meu Deus fazei com que eu morra de caneta na mão a lutar com as emoções, as palavras."

Não fora a voz relativamente irritante da Judite de Sousa a descambar descaradamente para uma quase euforia incontida de conversar com um autor que certamente admira muito e as perguntas relativamente básicas para o entrevistado em questão, curiosidades tontas de quem quer explorar o que sabe que é inexplorável. Não fora isto tudo a somar-se às vastas e escusadas interrupções do discurso do mesmo que me deixa sempre de cabeça inclinada (e pendurada) a procurar um ombro…
...e eu ter-me-ia comovido com estes 32 minutos e 40 segundos de homem-livro.

terça-feira, outubro 20, 2009

Tck tck tck...

The time has come to take a stand.

quinta-feira, setembro 24, 2009

22'

Quase a acabar o dia de hoje, a poucos mais outros de fechar os meus primeiros vinte e dois anos, tiro os vinte e dois minutos que dura um ritual que não partilho mas que vai bem com chá preto na caneca que “É de sermos tu e eu. / E de tu seres bonita” para dar conta destes dias.
Nesta varanda deste 5º andar virado para uma rua de Lisboa gosto de alinhavar coisas da vida, juntar umas pontas, desatar outras e dar uns nós nestas duas companhias. Faço-o assim, muitas vezes, em vinte e dois minutos. É mais ou menos o tempo que demorará para que o quarto crescente quase pousado no prédio do outro lado da rua desapareça por trás dele.
Os jornais diários dizem que as folhas deste ano levarão mais tempo a amarelar. O tempo ainda é quente de dia e a noite amena convida à solidão da varanda.
O regresso este ano foi inesperadamente tranquilo. Lisboa prometia-se menos fácil desta vez pelo Agosto diferente que me consumiu o verão e me levou ao mar mais fundo e ao deserto mais árido. Qual viagem sem regresso, é ir ao fundo deste mar mais profundo e experimentar o deserto mais árido para dizer do meu mês em Angola.
Bem sei que a poucos metros de onde me encontro haverá tanto ou mais sofrimento, tão ou mais árido, mas ir longe ver como sofrem os de lá que, sem alternativa, não escolheram nascer naquela terra só agora ávida de futuro, fez-me voltar diferente. Não se volta igual, é impossível. Os olhos vê(e)m outros.
Ir desprendida, comprometida, convicta dos motivos, ciente das dificuldades foi assinar um contrato de fidelidade com o Mundo. Um compromisso para a vida, como já há poucos.
Sem ver, por maior que seja a boa vontade que nos move, vive-se na permanente e fácil possibilidade de abandonar o ringue, saltar borda fora à primeira oportunidade para se voltar à vidinha que melhor ou pior se vai levando. Ir e voltar, despedaçada, não pelas feridas que se abrem mas pelas súplicas e clamores de auxílio que não têm fim nem número e que nos desintegram em mil pedaços compromete-nos de tal forma que pensar em se ceder à tentação de virar discretamente as costas, lavar diplomaticamente as mãos destes assuntos passa a envolver-nos num remorso permanente de não sermos nem fieis nem leais ao meninos que estranharam a nossa cor e o nosso cabelo, aos candengues que procuraram o nosso colo, aos velhos que esperaram a nosso interesse e a nossa palavra atenta, à gente que ficou na nossa própria ansiedade de voltarmos à terra onde mais podemos fazer por cada um.
Ir para lhes dar rosto e cor e nome e tom de voz e temperatura na pele e vida a correr-lhes nas veias e tempo na vida e carácter e defeitos e gestos e manias e gostos e sentido para não sermos mais precisos. Voltarmos para nos darmos verdadeira vida e rumo discernidos e caminhos firmes e com propósitos que são imprescindíveis e que deviam ser leis no mundo e levantarmos os olhos dos passos já insconscientes que damos consecutivamente um atrás de outro e sairmos da fila dos que lêem os problemas aos pés dos mesmos sem os dois passos atrás que os relativizariam.
Fui dar estes dois passoas atrás e caí de costas no (m)eu mar mais profundo e sequiosa experimentei o (t)eu deserto mais árido para voltar a adormecer a cada dia na urgência da tua canção ao meu ouvido.

Antes n/do deserto tu não sabias.

Mas se tu soubesses.

Dos meus sonhos.
Das minhas dores.

Do caminho que escolho e que me leva ao rio.


E do meu rio.

Dos meus trabalhos.


Dos meus medos.

Dos meus super poderes.

Das minhas poucas oportunidades para o mundo.

Mas da minha convicção.

E dos meus heróis.

Da minha fome.

Por me chamar Gabriel em Angola.

Dos meus segredos.

Das lutas que eu travo.

Das minhas mágoas.

Mas da Paz.

E da Esperança.

domingo, agosto 30, 2009

TURBULENCE AND LANDING

Luanda aos 30 de Agosto de 2009
Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob as montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas
Não posso adiar este abraço
que é uma arma de dois gumes amor e ódio
Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação
Não posso adiar o coração.
António Ramos Rosa
---

terça-feira, julho 14, 2009

A lógica do vento

O caos do pensamento

A paz na solidão

A órbita do tempo

A pausa do retrato

A voz da intuição

A curva do universo

A fórmula do acaso

O alcance da promessa

O salto do desejo

O agora e o infinito

Só o que me interessa.

sexta-feira, julho 10, 2009

Follow the Arrows

2' 11''

=)

*

segunda-feira, julho 06, 2009

(untitled)

Quando o dia entardeceu e o teu corpo tocou
num recanto do meu uma dança acordou
e o sol apareceu de gigante ficou
num instante apagou o sereno do céu
e a calma a guardar o que há em mim
o desejo a contar segundo o fim
foi um ar que te deu e o teu canto mudou
e o teu corpo do meu uma trança arrancou
o sangue arrefeceu e o meu pé aterrou
minha voz sussurrou o meu sonho morreu
dá-me o mar, o meu rio, minha calçada
dá-me o quarto vazio da minha casa
vou deixar-te no fio da tua fala
sobre a pele que há em mim tu não sabes nada.


A pele que há em mim - Márcia

terça-feira, junho 30, 2009

Almoço Missionário

Ainda há bilhetes! Juntem-se!

terça-feira, junho 16, 2009

Post (mesmo!) à Laurinda Alves*

Estou habituada a dias de outras coisas e não sabia que esta merecia tanto assim um "Dia" mas ontem - durante as notícias que ouço a correr de manhã entre o abrir metade dos olhos e a caneca de estimação metade café metade leite - só me lembrava disto...
*

*
...por causa disto...
A violência contra idosos está ainda "no armário" na sociedade portuguesa e precisa de fazer o mesmo caminho de divulgação que aconteceu com a violência doméstica contra as mulheres, apontaram hoje vários especialistas num seminário em Lisboa. (...)
Outra das conclusões indicada como alarmante é o facto de os abusos e a violência - física, mental ou financeira - serem praticados por familiares, o que contraria a ideia da instituição familiar como reduto de afecto e carinho para com os idosos.

(...) A apropriação de dinheiro e a colocação sem consentimento em lares - que configura muitas vezes um crime de sequestro - são algumas das formas de violência que "não são qualificadas como tal" na sociedade portuguesa.

Paula Guimarães, que indicou a violência sobre idosos como "problema de saúde público", referiu que se conhece apenas a "ponta do icebergue", sem números fiáveis quanto à ocorrência de casos de abuso.
(...) será preciso o mesmo investimento na "reconfiguração do enquadramento cultural" que ponha em destaque "a dignidade, o poder e o papel" dos idosos, para que deixem de ser vistos como "empecilhos".
* * *

15 de Junho é o Dia da Sensibilização para a Prevenção da Violência contra Pessoas Idosas

domingo, junho 14, 2009

"To do:"


Mais things we forget aqui!

quarta-feira, junho 10, 2009

Feriados et le temps des cerises

O meu avô pendurou cd's na cerejeira brava para espantar os melros e os estorninhos e assim dar tempo de eu ter tempo de lá ir comer as cerejas.
Para quem não sabe "este ano é ano de fruta e vai ser uma farturinha".
E hoje já tive tempo de acabar o Courrier de Maio, comprar e começar o de Junho e pôr o piano em dia.
Há dias que dão mais gosto do que outros. Assim.
* * *
"Mais il est bien court le temps des cerises / Où l'on s'en va deux cueillir en rêvant / Des pendants d'oreilles / Cerises d'amour."

segunda-feira, junho 08, 2009

Hallelujah


"It's, as I say, a desire to affirm my faith in life, not in some formal religious way but with enthusiasm, with emotion... It's a rather joyous song (...) I wanted to write something in the tradition of the hallelujah choruses but from a different point of view... It's the notion that there is no perfection, that this is a broken world and we live with broken hearts and broken lives but still that is no alibi for anything. On the contrary, you have to stand up and say hallelujah under those circumstances."

Leonard Cohen

sexta-feira, maio 29, 2009

Ponto de Luz

Para Xintir.

terça-feira, maio 19, 2009

Hoje.

(Fotos: Renato)

"Depois, o Sol, quando passa / Solta os cabelos, com graça, / Deixa-nos oiro nas mãos..."

E é quando eu não consigo não ter vontade de sair daqui e correr à procura dos sítios onde não haja tempo a contar e onde possa sossegar e meditar no caminho. Onde não existam nem coisas nem circunstâncias interpostas entre aquilo que quero e aquilo que posso ver e onde me possa demorar para rasar o essencial da vocação. É em dias como o de hoje que dou pelo roçagar das penas e me lembro das asas. Apetece-me arrumar as tralhas dos dias, vir à tona e sair a procurar-te e lembrar-me do coração. "Queria - vê lá tu - sentar-me ao teu lado, numa varanda sobre o mar, e escrever um romance que tu pudesses admirar. Era esse o nosso projecto comum: escrever romances paralelos, com os olhos misturados no mesmo mar (...) Há quanto tempo não te arde o coração?"



E vejo-te ir, pequeno, sem tempo de girar contigo esse leme pesado que vai dobrando os cabos da tua vida e lembro-me do compromisso. A torcer por ti.

segunda-feira, maio 04, 2009

Antes das grandes as pequenas coisas.

Importante é não perdermos a oportunidade das pequenas coisas, a beleza escondida nas casualidades, os desígnios secretos dos acasos.
Importante é não esquecermos que são essas as que regam os canteiros em torno do coração, os canteiros que fazem sonhar, então, o jardim antes e o descampado depois do muro.
Porque há vezes em que "aqui estou eu, sou uma folha de papel vazia [mas] pequenas coisas, pequenos pontos vão-me mostrando o caminho. [Isto porque] às vezes aqui faz frio, às vezes eu fico imóvel [sempre que] às vezes aqui faz frio."

segunda-feira, abril 27, 2009

"Eu queria ter barra nesse cais / p'ra quando o mar ameaça a minha proa."

Entre Santarém e Vila Franca de Xira há uma boa parte do caminho-de-ferro que por esta altura fica ladeada por dois corredores imensos de malmequeres amarelos entre os quais aparecem papoilas vermelhas a salpicar o cenário aqui e ali. Há quatro anos que reparo neste quadro muito Monet e há quatro anos que o acho só bonito.

Mas ontem precisava daqueles malmequeres ali para me lembrarem que volta e meia há flores a ladear caminhos que são de liberdade, opções que tomámos um dia, escolhas como as que agora me fazem apanhar o comboio ao Domingo, sendo muitas mais as vezes em que entro com ânimo do que as vezes em que entro sem ele. Ainda assim há dias em que a falta de vontade para travar as minhas lutas vem com um cansaço que me deixa ao espelho embaciado a criar interrogações sérias e a pensar. E quanto mais penso mais concluo que são as escolhas mais livres que nos dão os maiores trabalhos. Felizmente, e na maior parte das vezes, o espelho vai-se desembaciando ao longo do dia.

O trabalho está em arranjarmos uma e outra vez razões, que não se gastem, para levarmos adiante aquilo por que optámos, um dia, em consciência. Certa de que também eu vou mudando, preciso às vezes de subir à árvore, esperar que Passes e que me Chames e que me Ordenes a minha parte. Não quero esquecer-me do dia em que – reparo agora que há já tantos anos – se fez luz e entendimento em mim. Quero lembrar-me do dia, da hora, das cores que inspiram agora cada dia meu que nasce para prosseguir segura de que os malmequeres amarelos devem é nascer à medida que avanço livre neste meu sentido único.

* * *

Há uns bons tempos "encontrei-me" com este senhor.

Há uns dias "auto-mimei-me" com um dos dois livros que reúnem muita da obra que já estava publicada mais dispersamente e alguns inéditos.
Só há umas horas - porque cada poema é lido e cada adjectivo mastigado até apurar o sentido que o autor lhe daria se o tivesse escrito para mim - encontrei este e fiquei a pensar se algum dia este senhor não se terá, de facto, encontrado comigo, também.



SARA

Sara senta-se nos degraus das casas destruídas

Sara é o nome do deserto
É o nome da videira estéril
É o nome à espera de ter filhos

Sara está velha de estar
Sozinha. Está sentada e desfaz
A bainha dos seus vestidos.

Daniel Faria

terça-feira, abril 14, 2009

Quem é que não gosta de Coca-Cola? Quem é que não quer ser feliz?

Até agora a Coca-Cola só fazia bem à diarreia.

Agora faz bem ao espírito, também.

"Estás aqui para seres feliz!"

=)

segunda-feira, abril 13, 2009

[escapes]

tinha aprendido que era muito importante criar desobjectos.
certa tarde, envolto em tristezas, quis recusar o cinzento. não munido de nenhum artefacto alegre, inventei um espanador de tristezas.
era de difícil manejo – mas funcionava.


"às vezes uma chuva molhada é uma coisa boa para escorregar momentos em direcção a mim. quando uma chuva molhada cai sobre o mundo redondo, as coisas da vida e a vida das coisas encontram-se num quintal vasto. foi sob uma chuva molhada em canduras que encontrei as barbas do meu pai num poema e o sorriso da minha mãe noutro. foi nas entrelinhas dum poema ensopado que encontrei, várias vezes, a autorização interna pra falar a palavra amor [vou tentar não apagar isto: eu tenho certo receio da palavra amor, espero só que ela não me tenha receios também; seria triste].
foi com as mãos sujas de restos de amor que estiquei uma madrugada. quando digo a palavra madrugada também sinto um esticão no coração. se agora abuso muito das madrugadas é porque cada uma delas tem restos de amor que eu sempre vou perdendo. qualquer dia acumulo esses restos todos e faço uma construção de amor [talvez chame uma mulher pra se encostar ao outro lado dessa construção]. a palavra amor pode ser um labirinto com mais de catorze lados avessos. depois de esticar uma madrugada encosto a madrugada na minha pele e espero. a pele gosta de ser esculpida de novo muitas vezes na vida.
se puser um «v» na palavra esticar, poderei estivar uma madrugada. aí elevo-me a estivador de madrugadas e posso pensar num caixote com luar, um caixote com geada, caixotes pesados de estrelas, caixotes de nuvens carregadas de pingos, um caixote hermético com lágrimas, uma caixinha de costura com restos concretos de amor.
as palavras são muito bonitas também porque têm significados cicatrizados nelas – falo a palavra kwanza e sou invadido pelas belezas de um rio e o sol todo a bater-lhe nas peles da água escura que ele tem. o rio transporta o barro e os peixes e nunca ninguém se queixou de cócegas. há qualquer coisa de jangada na palavra rio. liberdade seria abraçar um jacaré sem lhe apetecer provar-me. eu queria fazer festinhas na carcaça antiga de um jacaré mas se ele me fizer festinhas magoa-me. vou olhar o jacaré de longe e o rio de perto – provar as minhas mãos nele. a pele do rio tem mais espelho que a minha e que a do jacaré. o céu e o sol gostam de verter reflexos nas peles paradas do rio kwanza e eu gosto de saber isso com os meus olhos atónitos de humidade. ali onde o mar beija o rio a espuma celebra o evento com pássaros que perseguem peixes. assim a poesia seja salobra ou salgada.
seria bonito ver os mangais depositarem raízes num poema meu – era a minha maior alegria fluvial.
há qualquer coisa de sapiência na palavra tristeza. e algumas tristezas não são de espanar – um dia posso descobrir que elas me fazem falta e ter que ir buscá-las na lixeira da catin ton.
vou encher-me de silêncios e imitar as pedras. adormecer entre as pedras pode ser que me contagie delas. depois de conseguir ser pedra vou exercitar o sorriso dessa pedra que eu for. com esse sorriso vou iniciar uma construção...
uma construção pode bem ser o lado avesso de uma certa tristezura."




materiais para confecção de um espanador de tristezas, ondjaki


domingo, abril 05, 2009

"Gosto de ti como quem gosta do Sábado."

Madrinha, madrinha... podemos brincar à apanhada sem tirar um dos pés da areia?
...
'Bora lá.

...

quinta-feira, março 19, 2009


o poema não tem mais que o som do seu sentido,
a letra p não é primeira letra da palavra poema,
o poema é esculpido de sentidos e essa é a sua forma,
poema não se lê poema, lê-se pão ou flor, lê-se erva
fresca e os teus lábios, lê-se sorriso estendido em mil
árvores
ou céu de punhais, ameaça, lê-se medo e procura
de cegos, lê-se mão de criança ou tu, mãe, que dormes
e me fizeste nascer de ti para ser palavras que não
se escrevem, lê-se país e mar e céu esquecido e
memória, lê-se silêncio, sim, tantas vezes, poema lê-se silêncio,
lugar que não se diz e que significa,
silêncio do teu
olhar de doce menina, silêncio ao domingo entre as conversas,
silêncio depois de um beijo ou de uma flor desmedida
, silêncio
de ti, pai, que morreste em tudo para só existires nesse poema
calado, quem o pode negar?, que escreves sempre e sempre, em
segredo, dentro de mim e dentro de todos os que te sofrem.
o poema não é esta caneta de tinta preta, não é esta voz,
a letra p não é a primeira letra da palavra poema,
o poema é quando eu podia dormir até tarde nas férias
do verão e o sol entrava pela janela, o poema é onde eu
fui feliz e onde eu morri tanto
,
o poema é quando eu não
conhecia a palavra poema, quando eu não conhecia a
letra p e comia torradas feitas no lume da cozinha do
quintal, o poema é aqui, quando levanto o olhar do papel
e deixo as minhas mãos tocarem-te, quando sei, sem rimas
e sem metáforas, que te amo,
o poema será quando as crianças
e os pássaros se rebelarem e, até lá, irá sendo sempre e tudo.
o poema sabe, o poema conhece-se e, a si próprio, nunca se chama
poema, a si próprio, nunca se escreve com p, o poema dentro de
si é perfume e é fumo, é um menino que corre num pomar para
abraçar o seu pai, é a exaustão e a liberdade sentida, é tudo
o que quero aprender se o que quero aprender é tudo,
é o teu olhar e o que imagino dele,
é solidão e arrependimento,
não são bibliotecas a arder de versos contados porque isso são
bibliotecas a arder de versos contados e não é o poema, não é a
raiz de uma palavra que julgamos conhecer porque só podemos
conhecer o que possuímos e não possuímos nada, não é um
torrão de terra a cantar hinos e a estender muralhas entre
os versos e o mundo, o poema não é a palavra poema
porque a palavra poema é uma palavra, o poema é a
carne salgada por dentro, é um olhar perdido na noite sobre
os telhados na hora em que todos dormem,
é a última
lembrança de um afogado, é um pesadelo, uma angústia, esperança.
o poema não tem estrófes, tem corpo, o poema não tem versos,
tem sangue, o poema não se escreve com letras, escreve-se
com grãos de areia e beijos, pétalas e momentos, gritos e
incertezas,
a letra p não é a primeira letra da palavra poema,
a palavra poema existe para não ser escrita como eu existo
para não ser escrito, para não ser entendido, nem sequer por
mim próprio, ainda que o meu sentido esteja em todos os lugares
onde sou, o poema sou eu, as minhas mãos nos teus cabelos,
o poema é o meu rosto, que não vejo, e que existe porque me
olhas, o poema é o teu rosto, eu, eu não sei escrever a
palavra poema, eu, eu só sei escrever o seu sentido.

José Luis Peixoto

O poema não se escreve com letras. O poema é quando os amigos se lembram de nós.

Obrigada, Patrícia.

Um beijinho...


quinta-feira, março 12, 2009

domingo, março 08, 2009

"Mestre, como é bom estarmos aqui!" Mt 17, 1-9

Porque confiei que Tu me darias sempre outra oportunidade para que eu voltasse uma e outra vez e pudesse beber do essencial das primeiras fontes.
Porque precisava deste tempo a sós Contigo e com o outro que caminha comigo, porque não trilho veredas sozinha em momento algum, porque há Vida, há Luz, há Esperança.
Porque deponho as máscaras de quase todos os dias e sou mais eu quando estou Contigo. Sou mais Eu, assim, no tempo que faço Teu, nos braços que me esperam e me acolhem sem perguntas ou ressentimento, nos momentos em que a Palavra se revela verdadeiro pão e sacia, como poucas vezes, a minha fome do Teu estar, do Teu Amor.
Porque não há no mundo lugar maior ou mais seguro do que aquele por onde Tu andas quando eu Te deixo andar comigo.
Porque só este é para mim o sentido autêntico do tempo que me cabe, que não tenho mais nem outro.
Porque os sonhos perdem a forma e o tamanho de tão extravasados. Porque o entusiasmo perde os limites que lhe vou pondo. Porque a vontade e o ânimo perdem a medida que têm tido. E, por fim, esvazia-se o copo repleto que não levava o essencial.
E tudo parece ficar a ser mais do que possível. Mesmo muito mais do que possível.
Amen.


"Pegadas na areia, / um trilho teu, / talvez o que quiseste marcar. /De pegada em pegada / deixei o meu trilho marcado / numa areia, numa vida / sempre contigo ali ao meu lado, ao meu lado."

segunda-feira, março 02, 2009

Da Quaresma, do jejum, da abstinência... e de outras coisas.

"Não jejueis como tendes feito até hoje, se quereis que a vossa voz seja ouvida no alto.
(...) O jejum que eu aprecio é este - oráculo do Senhor Deus:
Abrir as prisões injustas,
desatar os nós do jugo,
deixar ir livres os oprimidos,
quebrar toda a espécie de jugo;
repartir o teu pão com o esfomeado,
dar abrigo aos infelizes sem asilo,
vestir o nú,
e não desprezar o teu irmão.
(...) Se tirares da tua casa toda a opressão, o gesto ameaçador e o falar ofensivo;
se deres pão ao faminto, e saciares a alma do pobre
(...) então encontrarás a tua felicidade no Senhor."


Isaías, 58


sábado, fevereiro 28, 2009

Da chuva que traz as coisas tristes.

Raindrops keep fallin' on my head and just like the guy whose feet are too big for his bed nothin' seems to fit. Those raindrops are fallin' on my head, they keep fallin', so I just did me some talkin' to the sun and I said I didn't like the way he got things done, sleepin' on the job. Those raindrops are fallin' on my head, they keep fallin'. But there's one thing I know: the blues they send to meet me won't defeat me, It won't be long till happiness steps up to greet me. Raindrops keep fallin' on my head but that doesn't mean my eyes will soon be turnin' red. Cryin's not for me. 'Cause I'm never gonna stop the rain by complainin'... Because I'm free. Nothin's worryin' me, It won't be long till happiness steps up to greet me.

sexta-feira, fevereiro 27, 2009

Coming soon

27 Março - CCI - 21h30m

terça-feira, fevereiro 24, 2009

My Sunset Poem


(O pintor Cândido Teles dizia que não há outro lugar no mundo com esta palete de cores à hora de se pôr o sol - haverá outras, com certeza. Mas eu concordo com ele. É por isto que gosto da minha terra. Do meu Soalhal. Invejem-me que eu deixo.)

* * *

terça-feira, fevereiro 17, 2009

"Mira, amor!"

Hoy el mar es más azul que el cielo!

No sé por qué, pero necessitaba decírtelo
porque, sentiéndome cansado, sé perfectamente
que me fatiga no viene de la tierra, sino de esse lugar azul,
de ese largo camino extenso que me hace pensar.

...

Hoy el mar es más azul que el cielo!

João Gil / Ricardo Ribeiro / Ruben Alves

(a mim não me faltam caracóis...)

terça-feira, fevereiro 03, 2009

sábado, janeiro 31, 2009

Coisas de ser Sábado.

Ir ter com o meu avô é como ir beber de uma fonte a sabedoria que vem do tempo e das coisas vividas. O meu avô ensinou-me a ser nostálgica como ser nostálgica faz bem. O meu avô tem sempre uma história sobre o mar ou sobre o tempo em que era novo ou uma opinião sobre a actualidade que ele lê ou que ele ouve ou que ele vê para mim e hoje tinha bilharacos, também. O meu avô é mesmo avô porque o meu avô remata o que quer que eu diga em jeito de queixa com duas ou três palavras e eu mato a sede semanal de alguma compaixão num gole de palavras claras e conselhos elementares - “É mesmo assim! Tem que ser a andar para a frente.” – que para dizer a verdade são os que mais me faltam, os que me bastam e os que mais procuro junto dele. São previsíveis mas são do meu avô. São sábios assim e são dos que mais preciso.
O meu avô é um homem cismático e é (quase) careca. Isto explica ele ter um secador de cabelo. Sim, explica. O meu avô cisma que o mínimo frio que o apanhe desprevenido o vai constipar, o que exigiria, no mínimo, uma semana entre a cama, os livros e a televisão. O meu avô tem, portanto, um secador de cabelo e é careca. No Inverno o meu avô aquece uma meia com o secador de cabelo e calça-a. Aquece a outra meia e calça-a. Aquece a camisa e veste-a. Aquece a camisola e veste-a. Aquece as calças, os sapatos um por um e assim por diante. O meu avô aquece o boné de flanela, põe-o e, finalmente, aquece assim a sua careca. E eu não tenho como achar estranho que o meu avô careca tenha um secador de cabelo.
Ai o meu avô, o meu avô...

sexta-feira, janeiro 02, 2009

"I wish, I wish, I wish, I wish, I guess it never stops."

Padrón, Agosto 07
***
Caminhar
v. tr., percorrer certo caminho, andando;
v. int., andar, mover-se; percorrer caminho a pé; encaminhar-se; dirigir-se; tender;