Ir ter com o meu avô é como ir beber de uma fonte a sabedoria que vem do tempo e das coisas vividas. O meu avô ensinou-me a ser nostálgica como ser nostálgica faz bem. O meu avô tem sempre uma história sobre o mar ou sobre o tempo em que era novo ou uma opinião sobre a actualidade que ele lê ou que ele ouve ou que ele vê para mim e hoje tinha bilharacos, também. O meu avô é mesmo avô porque o meu avô remata o que quer que eu diga em jeito de queixa com duas ou três palavras e eu mato a sede semanal de alguma compaixão num gole de palavras claras e conselhos elementares - “É mesmo assim! Tem que ser a andar para a frente.” – que para dizer a verdade são os que mais me faltam, os que me bastam e os que mais procuro junto dele. São previsíveis mas são do meu avô. São sábios assim e são dos que mais preciso.
O meu avô é um homem cismático e é (quase) careca. Isto explica ele ter um secador de cabelo. Sim, explica. O meu avô cisma que o mínimo frio que o apanhe desprevenido o vai constipar, o que exigiria, no mínimo, uma semana entre a cama, os livros e a televisão. O meu avô tem, portanto, um secador de cabelo e é careca. No Inverno o meu avô aquece uma meia com o secador de cabelo e calça-a. Aquece a outra meia e calça-a. Aquece a camisa e veste-a. Aquece a camisola e veste-a. Aquece as calças, os sapatos um por um e assim por diante. O meu avô aquece o boné de flanela, põe-o e, finalmente, aquece assim a sua careca. E eu não tenho como achar estranho que o meu avô careca tenha um secador de cabelo.
O meu avô é um homem cismático e é (quase) careca. Isto explica ele ter um secador de cabelo. Sim, explica. O meu avô cisma que o mínimo frio que o apanhe desprevenido o vai constipar, o que exigiria, no mínimo, uma semana entre a cama, os livros e a televisão. O meu avô tem, portanto, um secador de cabelo e é careca. No Inverno o meu avô aquece uma meia com o secador de cabelo e calça-a. Aquece a outra meia e calça-a. Aquece a camisa e veste-a. Aquece a camisola e veste-a. Aquece as calças, os sapatos um por um e assim por diante. O meu avô aquece o boné de flanela, põe-o e, finalmente, aquece assim a sua careca. E eu não tenho como achar estranho que o meu avô careca tenha um secador de cabelo.
Ai o meu avô, o meu avô...
1 comentário:
Fantástico!
Quem me dera ter um avô!
Um beijo
Enviar um comentário