domingo, maio 11, 2008

Da razão de haver pardais no lugar de andorinhas, nas traves do alpendre, este ano.

Quisesse o tempo criar-te um espaço que se abrisse só com a intenção de te trazer para dentro da minha casa, como se fosses o desconhecido mais confiável que passa a esta hora da (minha) noite. Porque tenho para mim - que vou sendo com tempo - que do tempo que nos cabe só arrecadamos realmente os desconhecidos certeiros que convidamos para o nosso lar. Se os sentamos à mesa que temos no canto que é o mais agradável, se lhes damos a beber o melhor chá onde ensopem as melhores bolachas, com a manta mais quente sobre os joelhos, fazemos dos piores acasos os nossos mais ilustres hóspedes.
Há que impedir-lhes a entrada. Correr com eles, se for preciso.
Ainda que com o Tempo passem à nossa porta, de braço dado, o Medo com a Angústia, atrás de quem sigam a Desilusão e o Desencanto, envaidecidos de sua Tristeza, havemos de apressar-nos a apresentar-lhes o Amor, o Entusiasmo e a Alegria, que estarão para surgir no outro passeio da estrada e que seguem, de mãos dadas, para despachá-los sem lhes darem tempo. E hão-de vencer-se discórdias no tempo que dura estender um sorriso na boca. Crê quando digo que hão-de vencer-se guerras nas notas dos nossos risos.
Se soubermos onde guardámos as chaves que abrem as portas, se as portas abertas disserem da nossa entrega, se o tempo que entrar sacudir os pés e carregar para dentro os momentos em que construímos verdadeiramente, seremos os melhores moradores de nós mesmos, anfitriões da mais bela festa.

Sem comentários: