Os dias que passaram são dos mais propícios do calendário aos desejos, aos votos, às intenções de qualquer coisa. Oferecem-se e recebem-se presentes, visita-se a família menos chegada e acolhe-se em casa quase sempre só aquela que é a mais querida. A televisão amolece-nos o coração com as carências e os rostos que parecem ausentes no resto do tempo e lá se faz a boa acção do Natal desse ano. Fazem-se votos de boas festas a quem se cruza connosco, força-se um perdão numa zanga antiga, põe-se uma nota maior na caixa das esmolas, deixam-se uns brinquedos à porta de uma instituição, não importa: à mesa da consoada faz-se por que sobeje mais do que comida e não falta o sossego na consciência. Ainda que as Boas Festas saiam não sentidas entre a pressa de chegar não sei onde e sacos de compras, que o perdão seja fugaz, que não se procurem os frutos das nossas esmolas ou se fique à porta da instituição, sem se entrar para não se conhecer. Posto assim nem é que soe mal de todo. Mas é possível mais!
Parece-me sempre que nem chegamos a dar na medida daquilo que recebemos. E como recebemos muito mais nesta altura damos mais mas acabamos a dar só um pouco mais do que no resto todo do ano. E os Natais sucedem-se fartos de coisas, pobres de sentido e iguais ano após ano.
Lembro-me, por exemplo, dos que tendo alternativa melhor escolhem passar a noite mais longa do ano com os sem-abrigo nas rondas nocturnas habituais que lhes garantem a refeição quente, completa e muitas vezes única do dia ou a servirem numa consoada improvisada que reúne numa tenda os que normalmente habitam os vãos de escadas, os passeios sob varandas, os cantos mais escondidos e envergonhados das cidades, os que são literalmente as margens da sociedade que somos todos. E digo margens e não marginais porque como as moedas nada neste mundo tem um só lado, um só e único sentido. Ser margem deixa de ser só estar à parte quando ao fazer-se experiência com estas margens nos fica a vontade de atracar, de ancorar e não mais seguir incauto num qualquer afluente que não é verdadeiro rio. E nunca vamos tarde!
Passada uma semana sobre o Natal chegará outro dia onde desejos, votos e intenções serão senhores a que brindaremos com taças cheias. Doze passas com doze desejos para os mais tradicionais ou corajosos ou optimistas. Doze passas para uma única resolução de Ano Novo para mim. Desta vez “pouco, pequeno e possível”, como ouvi há dias.
A ver se vou longe.
Parece-me sempre que nem chegamos a dar na medida daquilo que recebemos. E como recebemos muito mais nesta altura damos mais mas acabamos a dar só um pouco mais do que no resto todo do ano. E os Natais sucedem-se fartos de coisas, pobres de sentido e iguais ano após ano.
Lembro-me, por exemplo, dos que tendo alternativa melhor escolhem passar a noite mais longa do ano com os sem-abrigo nas rondas nocturnas habituais que lhes garantem a refeição quente, completa e muitas vezes única do dia ou a servirem numa consoada improvisada que reúne numa tenda os que normalmente habitam os vãos de escadas, os passeios sob varandas, os cantos mais escondidos e envergonhados das cidades, os que são literalmente as margens da sociedade que somos todos. E digo margens e não marginais porque como as moedas nada neste mundo tem um só lado, um só e único sentido. Ser margem deixa de ser só estar à parte quando ao fazer-se experiência com estas margens nos fica a vontade de atracar, de ancorar e não mais seguir incauto num qualquer afluente que não é verdadeiro rio. E nunca vamos tarde!
Passada uma semana sobre o Natal chegará outro dia onde desejos, votos e intenções serão senhores a que brindaremos com taças cheias. Doze passas com doze desejos para os mais tradicionais ou corajosos ou optimistas. Doze passas para uma única resolução de Ano Novo para mim. Desta vez “pouco, pequeno e possível”, como ouvi há dias.
A ver se vou longe.
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