terça-feira, dezembro 30, 2008
sexta-feira, dezembro 26, 2008
À beira da decisão é sempre o lugar mais difícil de se estar.
Parece-me sempre que nem chegamos a dar na medida daquilo que recebemos. E como recebemos muito mais nesta altura damos mais mas acabamos a dar só um pouco mais do que no resto todo do ano. E os Natais sucedem-se fartos de coisas, pobres de sentido e iguais ano após ano.
Lembro-me, por exemplo, dos que tendo alternativa melhor escolhem passar a noite mais longa do ano com os sem-abrigo nas rondas nocturnas habituais que lhes garantem a refeição quente, completa e muitas vezes única do dia ou a servirem numa consoada improvisada que reúne numa tenda os que normalmente habitam os vãos de escadas, os passeios sob varandas, os cantos mais escondidos e envergonhados das cidades, os que são literalmente as margens da sociedade que somos todos. E digo margens e não marginais porque como as moedas nada neste mundo tem um só lado, um só e único sentido. Ser margem deixa de ser só estar à parte quando ao fazer-se experiência com estas margens nos fica a vontade de atracar, de ancorar e não mais seguir incauto num qualquer afluente que não é verdadeiro rio. E nunca vamos tarde!
Passada uma semana sobre o Natal chegará outro dia onde desejos, votos e intenções serão senhores a que brindaremos com taças cheias. Doze passas com doze desejos para os mais tradicionais ou corajosos ou optimistas. Doze passas para uma única resolução de Ano Novo para mim. Desta vez “pouco, pequeno e possível”, como ouvi há dias.
A ver se vou longe.
domingo, dezembro 21, 2008
2
se se abrir uma porta para o verão, vemos as mesmas coisas –
o tempo desenha-se assim, devagar.
Maria do Rosário Pedreira
quarta-feira, dezembro 17, 2008
Embalo II
You're a part time lover and a full time friend. The monkey on you're back is the latest trend. I don't see what anyone can see, in anyone else. But you. Here is the church and here is the steeple. We sure are cute for two ugly people. I don't see what anyone can see, in anyone else. But you. We both have shiny happy fits of rage. I want more fans, you want more stage. I don't see what anyone can see, in anyone else. But you. You are always trying to keep it real. I'm in love with how you feel. I don't see what anyone can see, in anyone else. But you. I kiss you on the brain in the shadow of a train. I kiss you all starry eyed, my body's swinging from side to side. I don't see what anyone can see, in anyone else. But you. The pebbles forgive me, the trees forgive me. So why can't, you forgive me? I don't see what anyone can see, in anyone else. But you. Du du du du du du dudu. Du du du du du du dudu. I don't see what anyone can see, in anyone else. But you.
segunda-feira, dezembro 08, 2008
Embalo.
Daydreamer, sittin’ on the seat / Soaking up the sun, he is a real lover, makin’ up the past and feeling up his girl like he’s never felt her figure before. / Jaw-dropper / Looks good when he walks, is the subject of their talks. / He would be hard to chase, but good to catch and he could change the world with his hands behind his back, Oh… You can find him sittin’ on your doorstep. / Waiting for the surprise. / It will feel like he’s been there for hours and you can tell that he’ll be there for life. Daydreamer, with eyes that make you melt, he lends his coat for shelter plus he’s there for you when he shouldn’t be, but he stays all the same, waits for you and then sees you through. There’s no way I could describe him / All I say is, just what I’m hoping for / But I will find him sittin’ on my doorstep / Waiting for the surprise /It will feel like he’s been there for hours / And I can tell that he’ll be there for life / And I can tell that he’ll be there for life.
quinta-feira, dezembro 04, 2008
03 / 12 / 08
Tenho trinta e oito semanas e de me querer tanto e com tanta força a minha mãe cansou-se. Alguém vai ter que abrir a barriga da minha mãe porque eu já sofro com o impasse. Dizem. Alguém corta a barriga da minha mãe e um par de mãos agarra-me com firmeza. Nasço num impulso para o peito da minha mãe que me quer tanto que se cansou até não poder mais. Estou azul, não choro, não me mexo e o meu coraçãozinho não dá de si. Gero agitação à minha volta. Algo se passa. Alguns muitos minutos passados reajo aos tubinhos que me puseram. Tusso. O meu coração bate já com mais ânimo e já respiro por mim. Quero voltar. E volto num “bebé palerma!” que uma menina de caracóis que me olha agora enternecida diz num alívio alegre de quem vê dar-se vida com fôlego à Vida. Os meus pais querem-me muito e vão chamar-me Kevin.
A Vida fascina-me e espanta-me, desde que me conheço, sob todas as formas. Quando era pequena as larvas viravam borboletas. As andorinhas, os pardais e os melros, os ninhos e os ovos e as crias aconteciam sempre na mesma altura do ano e à espera que viessem aborrecia-me e, enquanto isso, havia plantas que brotavam de feijões em algodão húmido. E mais, muito mais. E por isso sempre tive muito a curiosa mania que era uma mania curiosa de espreitar todos os ninhos de pássaros que não transpusessem muito as minhas vertigens, bisbilhotar todos os ninhos de coelho e aqueles que os ratos faziam dentro dos tijolos largados nalgum sítio. Fiz canteiros de girassóis e, impaciente, esperei que a primeira haste irrompesse por entre os grumos de terra. E, quando surgia à luz, maravilhava-me a forma como a terra em torno daquele início que procurava o sol tinha sido mudada e naquele estático instante era como se a planta crescesse a um ritmo perceptível aos meus olhos e essa força se visse a esses olhos. Mas nunca como agora. Por detrás de muitas das portas dos corredores da maternidade um aparelhozinho amplia os sons dos corações dos bebés dentro de um pequeno mar ainda dentro das barrigas das respectivas mães. Através desse pequeno mar transmitem-se sons que lembram o bater rápido e ritmado dos pés para se avançar no mar grande. Fazer estes corredores às horas calmas que vêm com o fim do dia, quando já ninguém espera coisa nenhuma por estas bandas e a luz já é baixa, revela-se um verdadeiro espanto. Eu desacelero e deslumbro os tímpanos que também acho estarem no meu peito e lembro-me e acredito que “cada criança, ao nascer, nos traz a mensagem de que Deus ainda não perdeu a esperança no Homem”. E a Vida com “V” maiúsculo fascina-me e espanta-me, desde que me conheço, sob todas as formas… Mas nunca como agora. Tão frágil e tão robusta. Tão enigmática, tão única e e tão irrepetível. Tão dom em si mesma.
terça-feira, dezembro 02, 2008
(untitled)
quarta-feira, novembro 19, 2008
Earth Water
segunda-feira, novembro 17, 2008
Os Madredeus tinham uma música chamada "Coisas Pequenas" que dizia assim...
sábado, novembro 08, 2008
Intrigam-me os pombos em Lisboa e o coração dos Homens
E teríamos a exclusividade dos bancos dos jardins. E dadas asas aos corações dos Homens teríamos exclusividade nos ramos das árvores por cima dos bancos dos jardins e não haveria mais ponte nem haveria mais estrada nem mais lua nem mais estrelas nem mais das coisas que unem o que só não está encostado mas está rente. Inspiro com o diâmetro todo do meu peito. Fecho os olhos e passa um filme na parte de dentro das minhas pálpebras. No filme - o tal filme - há uma caixa que abro e não tem fundo mas tem, até cima, dias dentro, como eu tenho, até cima, sol por dentro. E não sei já se a caixa é caixa ou se a caixa é peito e se o conteúdo da caixa são dias ou desejos ou dias muito desejados. Mas a caixa abre-se aos meus olhos que estão por dentro dos olhos fechados e a esses olhos abertos depõem-se os portões de todos os jardins de Lisboa e alinham-se, de cada lado, todos os dias em todos os bancos, junto a todas as fontes, sob todas as fases da lua, como se se alistassem prenúncios e possibilidades de felicidade infindas.
Quero um dia para plantar uma árvore num jardim por precisar de um dia para aconchegar-lhe as raízes no solo. Quero um dia para imprimir essa Primavera nas palmas das mãos e um dia para regar essa árvore nesse jardim. Um outro dia para ver brotar as primeiras folhas e ainda outro para esperar pelos frutos que nascem depois de caírem as flores que vêm depois das folhas. Um dia para ver amadurecerem-se os frutos. Outro ainda para ver amarelarem-se as folhas e um outro para ver essas mesmas folhas cair. Um dia para caminhar sobre essas folhas e imprimir o Outono nas palmas dos meus pés chatos. Um dia para ver encarquilhar-se-lhe a casca e um outro para ver surgirem-lhe os líquenes. Quero estações a sucederem-se ao ritmo a que crescem as árvores e árvores que crescem ao ritmo a que vão chegando as estações. Quero dias a seguirem-se ao ritmo a que a lua cresce e mingua no céu e abraços compassados com a queda das folhas secas na caixa que não tem (ao) fundo. E nesse fundo quero um piano.
Quero dias, (de) Sol. Quero todos os dias.
terça-feira, outubro 28, 2008
Porque sim.
Lead me out on the moonlit floor
Lift your open hand
Strike up the band and make the fireflies dance
Silver moon's sparkling
So kiss me.
quarta-feira, outubro 15, 2008
Quality time.
Não há resposta.
Passámos. Não fomos. Éramos.
Outros pés, outras mãos, outros olhos.
Mas aprendi muito com a grande maré das vidas,
com a ternura da vista em milhares de olhos
que me viam ao mesmo tempo.
sexta-feira, outubro 03, 2008
...
É por agora, penso, que o milagre acontece e as coisas tomam cada qual o seu tom pastel e alguém pinta o quadro mais sublime com as cores que julgo serem as minhas. As que os meus olhos mais apanham. As mais profundas.
É por agora, penso, imediatamente antes das maçãs do rosto me ficarem frias e o nariz me começar a pingar.
É por agora, penso, quando as gaivotas tomam a praia em dias como o de hoje, quando há nuvens brancas e baixas e sol. Um sol grande e a pôr-se. Um sol tão grande que parece perto.
É por agora, penso, por esta hora, que o milagre se dá.
De tantas vezes ver adivinho. Estou longe e adivinho o milagre a dar-se.
E se não tenho tempo de arrefecer as maçãs do rosto encardidas do sol da tarde, se já não fico até o nariz me pingar, passo a ponte com esta tela encaixilhada no espelho retrovisor e contento-me.
São dezanove horas e doze minutos e o sol não deve ainda sequer roçar a cordilheira de nuvens que estão pousadas no horizonte.
Dou-lhe quatro minutos. Dou quatro minutos ao sol e este pousa, enfim.
Sei que há no tempo que estas coisas demoram a paciência amorosa dos artistas.
É agora que as nuvens ficam da cor que as palmas das mãos têm quando, dadas, se aquecem. Uma cor que não puxa nem mais ao beije, nem mais ao roxo, nem tão pouco ao rosa e enquanto penso nisto destilam-se as cores de todas as coisas à minha volta.
E há gaivotas que se apossam da areia ao fundo e à minha esquerda, no quadro. São as que contemplam comigo o milagre. Há as que fazem o milagre, também. Vão e vêm, vagarosas, com a pouca ondulação que presumo que faça agora.
Penso que deve restar-me pouco mais do que meio sol e é agora do céu a cor das mãos que se estão a dar e as nuvens são da cor dos meus pés molhados e ao frio que daqui a pouco me vai arrefecer as maçãs do rosto e fazer-me pingar do nariz. E neles revelam-se, agora, todas as pedras com que no tempo se faz a areia. Brilhantes, pequenas, dão outra graça às minhas unhas e há um alaranjado, que se apura com o sol a pôr-se, nos meus ombros, nos meus pulsos, nos meus joelhos, nos meus tornozelos. Talento do artista consumado no ângulo da luz.
E por haver artista julgo que volta e meia me passa para as mãos as paletes e espera que me desembarace. São as cores do meu tempo. Pastéis, esbatidas.
Descuido-me e também já eu sou tela nas suas mãos e com o sol já escondido por trás das nuvens o alaranjado, antes nas minhas formas, é agora contorno brilhante das nuvens cinzentas que amuralham o sol. Tão brilhante que diria que algo acontece ao sol por esta altura, atrás das nuvens. A última pincelada. Agrada-me.
Sou eu, agora, das cores pastel que desceram do quadro e só assim faço mesmo meu o milagre do fim da tarde a uma certa hora de certos dias, também não a todas as alturas do ano, num determinado sítio.
Todos os sentidos me tocam as cores e aos olhos do artista sou do tom do fermento que leveda, do cheiro da água que se perde no ar do fim da tarde, do sabor do mar que seca ao ar na minha pele, dos sons crepitosos da espuma, das conversas indecifráveis entre as gaivotas, das ondas que rebentam aos meus pés, da cor das nuvens, ao frio.
Fica a faltar-me o tacto ao toque das mãos que, dadas, se aquecem e tomam a cor que têm as nuvens não roçadas, por enquanto, por um sol que é tão grande a ponto de parecer pôr-se perto.
sexta-feira, setembro 19, 2008
"Aiiiiiiiiiiiiiiiiiiii... a minha vida!"
quarta-feira, julho 02, 2008
sexta-feira, junho 20, 2008
Sem título.
Quero o útero primeiro. A Tuas duas mãos em concha à beira do planalto alto. A possibilidade de ficar sempre até saber bater as asas.
E nesses momentos corro atrás dos lugares onde mais Te encontro. Estás nos pinheiros de flores simples, singelas. Nos animais que os habitam, no seu canto. E estás nas pinhas que acomodam sementes, possibilidades imensas de novas árvores. Estás nas copas que não deixam o sol ferir os olhos. No santuário onde um colo me espera sempre que o procuro. E quando caminho, se me der conta, estás nas agulhas que se quebram e me dão a certeza de encetar de novo o caminho para o meu caminho.
E então volto-me para regressar. E assim que me volto sou eu o útero primeiro, a árvore que abriga e oferece os sons alegres, que acomoda todas as possibilidades. E sou de novo Teu santuário nos dias que vão correndo, lugar para Ti. E é em mim que Te procuro, e para Ti dentro de mim que corro, quando se abre, ao sol que fere os olhos, o que é mais íntimo, o que é mais frágil, o que quero intacto.
domingo, maio 25, 2008
Por Te revelares.
domingo, maio 18, 2008
Hum... escolho...
"Nada te espanta, nada te encanta, nada te tomba ou te levanta, sem passar dentro de ti."
"Tu és a escala, a mão que embala. Tomas bem conta de ti. Tu és a escala, a mão que embala. Tens um rumo a seguir."
"E nada te atrasa, nada te arrasa, nem que no céu percas uma asa. Vais pegar de novo em ti."
Sobre Jorge Cruz:
Nasci na Praia da Barra, no seio de uma família descendente de padeiros e guardas fiscais. O meu pai era treinador de futebol e a minha mãe cozinheira de chanfanas. Fiz a escola primária num colégio de freiras onde fui introduzido à fé e à religião. Aos fins-de-semana visitava militantes do PRP na prisão de Custóias. Com 10 anos, parti para Angola. Estudei na Escola dos Flamingos Cor-de-Rosa, Lobito, Benguela. Fui aprendiz de pesca em mar-alto sob vigilância de militares cubanos. Iniciei o treino em ginástica desportiva com o campeão mundial russo Lev Smedianov, embora a composição de refrões pop tenha afectado o meu rendimento. De regresso a Portugal, e já depois da morte de José Afonso, vivi na Charneca da Caparica, escrevi letras de hip-hop e formei um duo com o guitarrista Rui Jorge Abreu. Aos 15 anos, voltei à Praia da Barra onde celebrei casamento com uma jovem fotógrafa praticante de body-board. Fui basquetebolista. Li os existencialistas e formei o power-trio Superego que gravou em 1998 o disco "Quem Concebeu o Mundo Não Lia Romances" aclamado pela crítica por ter capa sépia. Ao vivo os Superego abriram para Sérgio Godinho e Jorge Palma e podem ser acusados de ter interrompido músicas para baixar do palco e participar em rixas. Com o segundo disco "A lenda da Irresponsabilidade do Poeta" (2001) fecharam a sua história inscrita num manifesto cómico-radical que não lhes granjeou amizades. Pelo meio editei 300 exemplares de canções acústicas gravadas em cassete baptizadas de "O Pequeno Aquiles". Licenciei-me em psicologia. Assinei os papéis de divórcio e fui tocar nas ruas de Barcelona e Santiago de Compostela. Estagiei com o músico guineense Oli Silva. Formei uma Fanfarra de música tradicional portuguesa de fusão. Dormi na Lagoa do Fogo e ouvi o "Time Out Of Mind". Fui investigador na Universidade do Porto, àrea de feminismo e psicologia política. Em 2003, gravei o álbum "Sede" que viria a ser editado pela NorteSul. Dediquei-me à escrita de short-stories e romances de amor. Na primavera de 2006, formei 4 bandas e fui para a Sra. da Hora gravar "Poeira", colecção de 11 canções que conta com a colaboração de alguns dos músicos portugueses de minha predilecção nas áreas do rock, jazz, reggae e música tradicional. Esperei pelo S. João para me despedir dos hospitais portuenses e mudei-me para Lisboa onde me iniciei nas profissões de bartender, porteiro e ensaísta. Sou Jorge Cruz, 32 anos, vagabundo amador, alquimista, escritor de canções.
sexta-feira, maio 16, 2008
(sonhei)
pela fresta aberta o meu peito fugiu
estavas do outro lado a tricotar janelas
domingo, maio 11, 2008
Da razão de haver pardais no lugar de andorinhas, nas traves do alpendre, este ano.
Há que impedir-lhes a entrada. Correr com eles, se for preciso.
Ainda que com o Tempo passem à nossa porta, de braço dado, o Medo com a Angústia, atrás de quem sigam a Desilusão e o Desencanto, envaidecidos de sua Tristeza, havemos de apressar-nos a apresentar-lhes o Amor, o Entusiasmo e a Alegria, que estarão para surgir no outro passeio da estrada e que seguem, de mãos dadas, para despachá-los sem lhes darem tempo. E hão-de vencer-se discórdias no tempo que dura estender um sorriso na boca. Crê quando digo que hão-de vencer-se guerras nas notas dos nossos risos.
Se soubermos onde guardámos as chaves que abrem as portas, se as portas abertas disserem da nossa entrega, se o tempo que entrar sacudir os pés e carregar para dentro os momentos em que construímos verdadeiramente, seremos os melhores moradores de nós mesmos, anfitriões da mais bela festa.
quarta-feira, abril 30, 2008
sexta-feira, abril 25, 2008
Onde é que eu já vi isto?!
domingo, abril 20, 2008
Anda lá, Senhor!...
II
eu sei que somos muito mais
se nos olharmos tão fundo de frente
se a minha vida for por onde vais
a encher de luz os meus lugares ausentes
é que eu quero-te tanto
não saberia não te ter
é que eu quero-te tanto
é sempre mais do que eu te sei dizer
mil vezes mais do que eu te sei dizer
segunda-feira, fevereiro 25, 2008
Prárrebitar(es)
sábado, fevereiro 23, 2008
sábado, fevereiro 09, 2008
É(s) tão bom!
Vale a pena ver castelos no mar alto, vale a pena dar o salto...
É tão bom uma amizade assim, ai, faz tão bem saber com quem contar.
Eu quero ir ver quem me quer assim.
É bom pra mim e é bom pra quem tão bem me quer.
Vale a pena ver o mundo aqui do alto, vale a pena dar o salto!
segunda-feira, fevereiro 04, 2008
E eles?...
terça-feira, janeiro 08, 2008
Tem dias.
Um pé fora da porta e dá para perceber do ar que é quente e húmido e do céu cinzento está para chover. Água, ou assim. Quem dera, respostas.
Desço a Rua das Pretas, dói-me a cabeça e devo ter má cara porque ouvi um “Jeitosa!”, baixinho, entre dentes, de um sujeito, de bigode, escuro de sujidade e barba mal desfeita que se cruza comigo no passeio. Já dizia, há muito, a música: “São os loucos de Lisboa…”. Ainda eu não sei o quanto.
Estou a faltar a uma aula teórica sobre fármacos que modificam a transmissão opiácea e não me pesa.
Hoje saí de casa ainda a tempo de ver apagarem-se, de uma vez só, todas as lâmpadas dos postes de iluminação, ainda sem haver grande claridade. Não que hoje tivesse havido, de todo, grande claridade. Tem dias.
Resolvi-me, ainda agora, a voltar para casa de autocarro. O metro exige mais de mim do que hoje já me disponho a dar. Subo a Avenida da Liberdade. Não toda. Vou de phones com a Susana Félix a dizer-me que “enquanto vergo não parto, enquanto choro não seco” e há turistas chineses, a sorrir, de mochila às costas, na paragem do autocarro que entretanto chega.
Entro, valido o passe, há muita gente em pé e, com as mãos cheias de tralha, mando com o guarda-chuva em alguém que acaba a balbuciar meia dúzia de responsos.
Sigo e há dois pares de lugares vazios lá no fundo. Abro caminho e sento-me e há tanto trânsito e eu passo pelas brasas. Algumas paragens a seguir, não sei já quantas, entra um homem. Gordo, cabelo grisalho desalinhado. Aspecto geral normal apesar de descuidado. Idade aparente de uns 40 anos.
Aproxima-se para se sentar atrás de mim. Tem, agora mais de perto, caspa na camisola azul de gola redonda. Por todo o lado.
Senta-se, vasculha nuns sacos de plástico, rabisca umas coisas num caderno e quando não espero “Olhe, posso pedir-lhe uma informação?”. Eu “Claro, diga”. Tira, do saco, um sapato verde-escuro, acalcanhado e de atacadores. Não dou conta e ele, meio debruçado sobre o banco, aproxima de mim o sapato para que eu pudesse ver-lhe a palminha clara. Ele, arrastado, como se tivesse mimo na fala: “Isto está sujo ou está limpo?”. E eu “Está limpo!”. E ele “E é para sujar?”. E eu “Não, não é para sujar”. “Muito obrigado!”, “De nada.” e o sapato volta ao saco.
Hoje saí de casa ainda a tempo de ver apagarem-se, de uma vez só, todas as lâmpadas dos postes de iluminação, ainda sem haver grande claridade. Por esta altura já estão, outra vez, acesas. Dói-me a cabeça e não vejo a hora de aterrar na cama. Já não devo ter má cara. O caminho a pé até casa é tranquilo e, só por hoje, não finto os verdes e vermelhos nas cinco passadeiras consecutivas que habitualmente me consomem a paciência.
Hei-de descalçar-me e , a sorrir, analisar as minhas palmilhas. “Isto está sujo ou está limpo?”, “Está limpo!”. “E é para sujar?”…
“Não, não é para sujar”. Mas também tem dias.