segunda-feira, outubro 23, 2006

Lisboa, 23 de Outubro de 2006

Mais uma semana.
Mais cinco dias de um mal menor e necessário, como costumo chamar ao tempo que passo em Lisboa.
Este ano voltei a sentir-me uma caloirinha chegada da terra, insegura e desamparada. Porque aqui a vida não anda, corre. E corre tão depressa que é preciso um esforço extra para não descompassar.
Na retrospectiva própria dos inícios de ano lectivo, recordo a primeira noite que aqui passei. A cama era estranha, o quarto era estranho, estava perto de gente estranha e longe dos meus. Que drama que foi!
Um ano depois, as estranhezas sucedem-se de tal forma nos meus dias que deixei, até, de estranhar. O tempo faz-nos desenvolver uma espécie de imunidade às coisas menos boas da vida. Preocupante é o facto de essa imunidade se manifestar, também, como acomodação nas situações que mereceriam, por necessidade, a nossa intervenção. Trocam-se os olhos do coração por lentes de “ver ao longe” e de tão distraído que se anda com o ver o lá longe, damos com o nariz nas situações mais tristes, num instante qualquer de lucidez de dentro.
Ontem, 22 de Outubro, foi o Dia Mundial das Missões. “Amor, fonte da Missão”. Acho que renovei votos. Votos de compromisso com as pessoas e as coisas do Mundo, comigo, com a minha Missão e com Deus.
Na viagem para cá, troquei o balanço do comboio – que habitualmente me leva aquele estado de sono vigilante – por um exercício musical. Já na acalmia do meu quarto cheguei à conclusão de que já suspeitava. É o Amor o motor de todas as coisas. E o Amor na música traduz o Amor de dois, o Amor pela Vida, pelas coisas, pelos momentos e também, e afinal de contas, o Amor por Ti.
Ora veja-se:
“Sei de cor, cada lugar Teu atado em mim a cada lugar meu (…) Pensa em mim, protege o que eu Te dou, eu penso em Ti e dou-Te o que de melhor eu sou, sem ter defesas que me façam falhar (…) Fica em mim que hoje o tempo dói (…) Eu vou guardar cada lugar Teu, ancorado em cada lugar meu. E hoje apenas isso me faz acreditar que eu vou chegar Contigo onde só chega quem não tem medo de naufragar.”

Importa, também, que me comprometo a pensar e a fazer um dia de cada vez. Descobri que essa é a melhor atitude quando estamos longe dos nossos e com motivos que nem sempre nos fazem sorrir, num meio onde os valores, as imagens, os diagnósticos que mais parecem sentenças, a incredulidade dos que nos rodeiam e nos preparam “à sua imagem” fazem desvanecer, nos mais desatentos, a Tua existência evidente e a tua presença obstinada, teimosa. E, nunca descurando de Ti, ou fazendo-o o menos possível, vou tentar cumprir a minha parte na construção deste mundo!
Também estou a caminho…

2 comentários:

Anónimo disse...

Lendo este post nem sabes como revi tantas coisas do também meu pseudo "drama". Foram momentos muito difíceis, com tantos obstáculos, tantos e tão altos que achei impossível ultrapassar. Tantas barreiras, tantos muros que se levantaram como diz a Mafaldinha numa das suas músicas... É o Medo, é mesmo o Medo que levanta todos os muros da nossa vida e só depois de decidirmos estar frente-a-frente com o próprio é que conseguimos perceber que afinal os muros que nós achávamos de betão armada não são mais do que construções de areia molhada e que uma vez secos desmoronam como os castelos na praia... O ano que passamos como caloirinhos/caloirinhas longe de tudo o que é nosso mostra-nos que mesmo os mais frágeis, as meninas com ar de crianças indefesas revelam-se então mulheres capazes de muito.
Os grandes responsáveis da mudança somos mesmo nós e o tempo mas a ajuda dos outros, que conhecemos há muito tempo ou que conhecemos no primeiro dia da Faculdade, é definitivamente essencial.

E por isso obrigada... e obrigada pelo blog...e pelos textos que escreves e são tão fiéis à realidade...e obrigada!

Bjinhus e xis

Eu por Ti disse...

Não é dificil adivinhar quem és!
=)
Um beijinho colorido para uma das minhas mais recentes aquisições. Tu*
;)